Pesquisar este blog

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Uma aula em video: de jornalismo e de Venezuela! Ou ainda, de ética jornalística, democracia e imparcialidade.

Professor dá aula de Venezuela e passa pito na Globo, em plena Globo
Uma aula de Venezuela e um pito na Globo, em plena Globo. Em debate na Globonews, Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da UFABC, explica a crise, derruba o mito da ‘falta de liberdade’ no país vizinho e desnuda a parcialidade da imprensa.



Paulo Donizetti de Souza, RBA

Professor Igor Fuser é doutor em Ciência Política pela USP (Reprodução)

O professor de Relações Internacionais da USP José Augusto Guillon e a apresentadora Mônica Waldvogel, do programa Entre Aspas, da Globonews, chegaram ao limite da gagueira, ontem (18), durante debate a respeito da crise na Venezuela com a participação do professor e jornalista Igor Fuser, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). O debate começa dirigido, ao oferecer como gancho para a discussão a figura de Leopoldo López, o líder oposicionista acusado de instigar a violência nos protestos das últimas semanas, e preso ontem.

Diz a narração de abertura: “Ele é acusado de assassinato, vandalismo e de incitar a violência. Mas o verdadeiro crime de Lopez, se podemos chamar isso de crime, foi convocar uma onda de protesto contra o governo de Nicolás Maduro. Protestos seguidos de confrontos que deixaram quatro mortos e dezenas de feridos”. E segue descrevendo que a violência política decorre da imensa crise no país – inflação, falta de produtos nas prateleiras, criminalidade em alta. Ainda no texto de abertura, na voz de Mônica, o governo é acusado de controlar a economia e a Justiça, pressionar a imprensa e lançar milícias chavistas contra dissidentes. E encerra afirmando que Leopoldo Lopez, na linha de frente, reivindica canais de expressão para os venezuelanos, e abrem-se as aspas para Lopez: “Se os meios de expressão calam, que falem as ruas”.

Do início ao fim do debate, com serenidade e domínio sobre o assunto, Igor Fuser leva a apresentadora e o interlocutor às cordas desde o início. Reconhece as dificuldades políticas do presidente Nicolás Maduro e a divisão da sociedade venezuelana. Mas corrige os críticos, ao enfatizar que o país vive uma democracia, e opinar que a campanha liderada por López é “golpista”, ao ter como mote a derrubada do governo legitimamente eleito com mandato até 2019.

Fuser informa que em dezembro se cristalizou um processo de diálogo entre governo e oposição, então liderada por Henrique Capriles, derrotado nas duas últimas eleições presidenciais por margem muito pequena de votos. E que a disposição ao diálogo levou a direita mais radical a isolá-lo, permitindo a ascensão de figuras como Leopoldo López. Indagado se não seria legítimo as manifestações da ruas pedirem a saída do governo, como foi no Egito ou está sendo na Ucrânia, o professor da UFABC resume que as manifestações na Ucrânia são conduzidas por nazistas, e no Egito a multidão protestava contra uma ditadura. Lembra que na Venezuela houve quatro eleições nos últimos 15 meses, que o chavismo venceu todas no plano federal, mas que as oposições venceram em cidades e estados importantes, governam normalmente e as instituições funcionam, e que a Constituição é cumprida.

Questionado sobre a legitimidade da Constituição – que teria sido sido aprovada apenas por maioria simples – informou que a Carta, depois de passar pelo Parlamento, foi submetida a referendo popular e aprovada por 80% dos venezuelanos – o que inclui, portanto, mais da metade dos que hoje votam na oposição. E à ironia dos debatedores, de que seria paranoia das esquerdas acusar os Estados Unidos de patrocinar uma suposta tentativa de golpe, esclareceu: os Estados Unidos estiveram por trás de tantos golpes da América Latina – na Guatemala nos anos 1950, no Brasil em 1964, no Chile em 1973, na própria Venezuela em 2002 – que não é nenhum absurdo supor que estejam por trás de mais um. E que também não é absurdo, em nenhum país do mundo, expulsar diplomatas que se reúnem com a oposição como se fossem dela integrantes.

O jornalista desmontou também os argumentos de que o país sofre de ausência de liberdade de expressão. Disse que o governo dispõe, de fato, de jornais, canais de rádio e de televisão importantes, mas que dois terços dos veículos de imprensa da Venezuela são controlados por forças oposicionistas. E que o que existe na Venezuela seria, portanto, a possibilidade de contraponto. E Fuser foi ferino no exemplo dos problemas que a ausência de diversidade nos meios de comunicações causam à qualidade da informação: “Sou jornalista de formação e nunca vi nem na Globo nem nos jornais brasileiros uma única notícia positiva sobre a Venezuela. Uma única. A gente pode ter a opinião que a gente quiser sobre a Venezuela, é um país muito complicado. Agora, será que em 15 anos de chavismo naõ aconteceu nada positivo? Eu nunca vi. Não é possível que só mostrem o que é supostamente ruim. Cadê o outro lado? Será que os venezuelanos que votaram no Chávez e no Maduro são tão burros, de votar em governo que só faz coisa errada?”

Vale a pena assistir aos 26 minutos de programa. Essa crítica à Globo em plena Globo está nos dois minutos finais.

E fecha aspas! Fecha aspas!


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O nome disso é escárnio

Com mais R$ 50,00 se aluga um black bloc


"O sultanato de jaleco branco trata a saúde como um mercado de camelos; alia-se ao conservadorismo retrógrado e tem na embaixada dos EUA um corredor de fuga."


Saul Leblon


Algo outrora inescapável do epíteto de um escárnio contra o povo brasileiro está em curso nos dias que correm.

O ruído que provoca -- tanto das fileiras do governo, quanto nas de segmentos que se avocam à esquerda dele-- é incompreensivelmente desproporcional a sua gravidade.

Que as sininhos não badalem e, igualmente, seus carrilhões silenciem, é ilustrativo do fosso existente entre o inflamável alarido anti- Copa bimbalhada nas ruas e a real preocupação com o futuro do país e a sorte da população.

A Associação Médica Brasileira, em sintonia com a embaixada dos EUA e aliada à coalizão demotucana, tendo respaldo e torcida da mídia, opera abertamente para destruir um programa de saúde pública emergencial voltado às regiões e contingentes mais vulneráveis do país.

Não há resguardo das intenções, nem pudor na propaganda da ação.

A entidade que se proclama representante da corporação médica brasileira acolhe e viabiliza deserções de profissionais cubanos fisgados pelo redil conservador em diferentes regiões e municípios.

O Estado brasileiro investirá este ano R$ 1,9 bi em recursos públicos nesse programa operação, para agregar 43 milhões de atendimentos/ano ao SUS a partir de abril, quando o Mais Médicos atingirá seu efetivo pleno, com mais de 13 mil profissionais em ação, sendo seis mil cubanos.

A embaixada dos EUA no Brasil --em sintonia com a Associação Médica e lideranças dos partidos conservadores--opera abertamente para que não seja assim.

O tripé orienta e encaminha pedidos de vistos especiais, a toque de caixa, para que o maior número de desistentes possa rumar a Miami, onde os espera a estrutura da ‘Solidariedade Sem Fronteiras’.

A ONG de fachada humanitária tem como principal negócio –financiado por recursos orçamentários que a bancada cubana assegura no Congresso-- promover e operar deserções em convênios de saúde firmados entre Havana e 66 países nesse momento.

São mais de 43 mil médicos cubanos em ação na América Latina, Ásia e África. Devem atingir atingir um recorde de 50 mil em dois meses, quando o convênio brasileiro estiver plenamente implantado.

Um aspecto da remuneração desses profissionais deliberadamente pouco divulgado é que nem todos os convênios internacionais de Havana são pagos.

Na verdade, dos 66 países assistidos nesse momento apenas 26 se enquadram no que se poderia chamar de prestação de serviços pagos.

Outros 40 países recebem contingentes médicos gratuitamente.

O mesmo ocorre com missões de educação ou esporte.

A ‘exportação’ de serviços rende a Havana, segundo a chancelaria cubana, cerca de US$ 6 bi/ano (três vezes mais que a segunda fonte de divisas do país, representada pelo turismo).

A exportação de serviços pagos - principalmente na área de saúde – financia as missões solidárias destinadas a países de extrema precariedade econômica e material ou focadas em situações de calamidade devastadora.

É assim desde 1960, quando Cuba enviou sua primeira missão de solidariedade ao Chile, vítima de um terremoto.

Eis é a principal razão para a diferença entre o salário efetivamente recebido pelo profissional de uma missão e aquilo que o governo cubano arrecada pelo serviço prestado.

Uma parte do saldo financia as missões gratuitas que, repita-se, são a maioria.

Outra sustenta a Escola Latino-americana de Medicina, que possuía em 2013 cerca de 14 mil alunos estrangeiros, gratuitamente cursando ou com subsídio quase integral.

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes, Cuba investe pesado em pesquisa na área de saúde e formação de médicos: são quase 83 mil (1/138 habitantes).

O investimento tem duplo objetivo: zelar pela população que tem a menor taxa de mortalidade infantil do mundo, e gerar receita numa economia asfixiada há 50 anos pelo embargo comercial norte-americano.

Também isso se financia através das missões remuneradas.

A ideia de que a doutora Ramona Rodriguez possa ter desembarcado no Brasil desinformada dessas particularidades acerca de seu salario, subestima a conhecida determinação de Havana, de ressaltar interna e externamente aquela que é a marca inegável de sua ação internacional: a solidariedade.

A mesma alegação de ignorância tampouco se pode conceder –neste aspecto-- ao colunismo isento, que cuida de festejar as deserções - por ora pontuais - como se fossem o preâmbulo de uma diáspora libertária, em marcha épica rumo a Miami.

A participação da embaixada norte-americana no jogo de aliciamento e hipocrisia é ainda mais grave.

Trata-se de uma tentativa de sabotagem de um programa soberano de saúde pública emergencial, cujo desmonte poderá agregar novas vítimas e mais sofrimento num universo de milhões de brasileiros desassistidos.

Se a intrusão é desconcertante, não se pode dizer que surpreenda.

Quando o governo Lula decidiu quebrar a patente de anti-virais , em 2007, a embaixada norte-americana operou para sabotar a medida.

Agiu em contato direto com as múltis do setor farmacêutico, o Departamento de Estado do governo Bush e ‘amigos’ locais -- não se sabe se os mesmos que hoje cerram fileiras com o duplo interesse de implodir o ‘Mais Médicos’ e sangrar Havana.

Telegramas secretos da época, obtidos pela organização Knowledge Ecology International (KEI), revelam ameaças de represália enviadas então a Brasília:

(...) uma licença compulsória pode fazer com que fabricantes de produtos farmacêuticos evitem introduzir novos remédios no mercado e seria mais difícil para o Brasil atrair os investimentos que tanto necessita", relatava um deles sobre o teor de reuniões com autoridades e políticos locais.

Lula oficializaria em maio de 2007 o licenciamento compulsório do anti-retroviral Efavirenz, usado por 75 mil pacientes de Aids atendidos pelo SUS. Um genérico importado da Índia passou a ser usado ao preço de US$ 0,45, contra US$ 1,59 cobrado pela multinacional norte-americanas. Uma economia de US$ 30 milhões até 2012.

Volte-se um pouco mais no tempo, até as vésperas do golpe de 64, e lá estarão, de novo, os mesmos protagonistas, com idênticos propósitos.

O embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, fileiras udenistas e lacerdistas, múltis do setor farmacêutico e sabujos da mídia, a ganir a pauta da estação.

Eram tempos de inflação galopante e dinheiro curto: a saúde corria risco.

O então ministro da Saúde, Souto Maior, lutava para obter uma redução de 50% sobre os preços de 70 medicamentos mais usados pela população.

Laboratórios das multinacionais abriram guerra contra o tabelamento.

Às favas a saúde: primeiro, os interesses das corporações.

Lembra algo do comportamento atual da embaixada que se orienta pelos mesmos valores e da Associação Médica Brasileira que tanto quanto os abraça?

No famoso comício da Central do Brasil, sexta-feira, 13 de março de 1964, João Goulart decretou a expropriação de terras para fins de reforma agrária, encampou refinarias e anunciou a criação de estudos para fabricação estatal de medicamentos no país.

O conjunto era fiel aos preceitos do ‘sanitarismo-desenvolvimentista,’ abraçado então pelas fileiras progressistas da medicina brasileira.

Médicos como Samuel Pessoa, Mário Magalhães, Gentile de Melo e Josué de Castro –autor do clássico ‘Geografia da Fome ‘ e primeiro secretário- geral da FAO, que faleceu no exílio , cassado pela ditadura e impedido de retornar ao Brasil mesmo para morrer – eram alguns de seus expoentes.

Profissionais que hoje seriam olhados com suspeita, enxergavam a luta pela saúde como indissociável da luta pela desenvolvimento econômico e humano do país.

Em setembro de 1963, Jango, com apoio deles, restringiu a remessa de lucros da indústria farmacêutica. Mister Lincoln Gordon foi à luta: a USAID retaliou no lombo da pobreza cortando a ajuda no combate à malária – que se destacava como uma das principais doenças tropicais na época.

A ofensiva gringa apenas fortalecia as convicções dos sanitaristas-desenvolvimentistas.

Embora heterogêneos nas filiações ideológicas, seus representantes entendiam que doença e pobreza caminhavam juntas. Como tal deveriam ser enfrentadas em ações soberanas, abrangentes e desassombradas, que rompessem a fragmentária estrutura de uma sociedade retalhado por interesses que não eram os de seu povo.

Compare-se isso com o sultanato de jaleco branco.
Esse que hoje trata a saúde como um entreposto de camelos; alia-se ao conservadorismo mais retrógrado e tem na embaixada dos EUA um corredor de fuga em prontidão obsequiosa.

Bajulado pela mídia, o conjunto quer implodir o ‘Mais Médicos’ e sangrar Havana.

O nome disso é escárnio. E Brasília deveria dizê-lo claramente ao embaixador gringo, ao chamá-lo a prestar esclarecimentos sobre ingerência e sabotagem em assuntos internos.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Quanto mais "Mariels", melhor para o Brasil

Cuba avança para o capitalismo.

Em 2013, a Odebrecht Infraestrutura faturou US$ 8 bilhões no exterior. Pena que apenas 12,5% vieram de projetos financiados pelos "créditos sigilosos" do BNDES. Com mais financiamentos, muito mais riqueza teria sido gerada no Brasil.

Aprendi com meu avô que o maior desperdício humano é muita eficiência para pouca eficácia. A recente inauguração do porto de Mariel, em Cuba, motivou um eficiente ataque ao governo na mídia. Mas essa é a batalha errada.

Quando temos como propósito mostrar quem –em especial, o governo– está errado, deixamos de focar o que está certo e o que precisa ser aprimorado.

O BNDES não investiu em Mariel. O BNDES financiou as exportações de cerca de 400 empresas brasileiras, lideradas pela Odebrecht, no valor equivalente a 70% do projeto. Se o porto será de grande importância para o socialismo cubano, foi o capitalismo brasileiro que mais ganhou até agora.

País que não exporta não cresce, não adquire divisas e não se insere na economia internacional. A exportação de serviços suporta hoje 1,7 milhão de postos de trabalho no Brasil, na interação com vários setores produtivos. Promove a inovação e estimula a capacitação de mão de obra altamente especializada.

Entretanto, lemos e ouvimos que o financiamento brasileiro gera empregos no exterior; que os contratos são sigilosos, talvez para encobrir negócios escusos; que drena recursos da nossa infraestrutura; e que o TCU (Tribunal de Contas da União) não fiscaliza.

Nada disso é verdade.

Primeiro: o financiamento à exportação gera empregos no Brasil, porque não há remessa de dinheiro para o exterior. Os recursos são desembolsados aqui, em reais, para a aquisição de 85% dos bens e serviços produzidos e prestados por trabalhadores brasileiros (os demais 15% são pagos à vista pelo importador).

Segundo: informações como o valor, destino e objeto do financiamento sempre foram públicas, como pudemos ouvir e ler em todos os meios que trataram de Mariel. As únicas informações que não são públicas são as usuais das operações bancárias, como o valor do seguro, eventuais contragarantias e as taxas que compõem a operação.

Nos financiamentos feitos pelos chineses, alemães, americanos, enfim, por todos os países, essas informações também são confidenciais. Não foram o Brasil e Cuba que inventaram essa regra.

Terceiro: os recursos que financiam exportações não concorrem com os destinados a projetos no Brasil e são providos por fontes diferentes. Os números falam por si: em 2012, o BNDES destinou cerca de US$ 7 bilhões para apoiar o comércio exterior e US$ 173 bilhões para o mercado interno.

O porto de Cuba não impediu a construção de nenhum projeto no Brasil. Aliás, até ajudou.

Por meio da exportação de serviços, como a de Mariel, a Odebrecht se capacita e gera resultados que aplica aqui, como fez no terminal de contêineres da Embraport, em Santos. É o maior do Brasil e foi construído pela Odebrecht, simultaneamente a Mariel, com investimento próprio de R$ 1,8 bilhão.

Quanto ao TCU, ele fiscaliza, sim, certificando se são nacionais os bens e serviços exportados.

Finalmente, para quem está questionando os riscos quanto ao pagamento, é importante saber que a ocorrência de calotes não está relacionada a alinhamentos ideológicos: os maiores "defaults" recentemente enfrentados pelo Brasil vieram dos Estados Unidos e do Chile.

Pensando como pai, esse episódio me lembra daqueles que criticam a boa nota que o filho tirou em matemática, porque o garoto está indo mal em português. Pensando como brasileiro, proponho a identificação e o debate de nossos reais desafios e a escolha das batalhas certas para colocar nossas energias.

Folha

MARCELO ODEBRECHT, 45, engenheiro civil, é presidente da Odebrecht, empresa brasileira que atua em áreas como engenharia, construção e petroquímica


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Onde está o Brasil?


Resposta à Veja: Acorrentado ao poste, como aquele negro. A corrente é a mídia
8 de fevereiro de 2014 | 11:31 Autor: Fernando Brito






A revista Veja, uma espécie de toque de Midas ao inverso, que transforma em imundície tudo em que toca, coloca em sua capa a imagem do menino negro, acorrentado a um poste por um bando de tarados do Flamengo, pergunta “Onde está o Brasil equilibrado, rico em petróleo, educado e viável que só o Governo enxerga?”.

A Veja merece resposta.

Não para ela, que é muito mais incorrigível que o pequeno delinquente que lhe serve de carniça.

Porque ela, ao contrário dele, tem meios e modos para entender o que é civilização, enquanto ele precisa ocupar o tempo arranjando algum resto de comida para engolir, uma cola de sapateiro para cheirar em lugar do respeitável pó branco das festas da elite, e uma banca de jornal que lhe sirva de colchão de lata ou teto de zinco, se chove ou se faz sol.

A resposta à Veja é necessária para que este império de maldade e seus garbosos centuriões saibam que existe quem não lhe abaixe a cabeça e anuncie que fará tudo, tudo o que puder, enquanto a vida durar, para arrancar o Brasil das correntes com que a fina elite e seus brucutus anabolizados da mídia o amarram no poste do atraso, da submissão, da pobreza e da vil condição de uma sociedade de castas, onde eles são a nobreza opulenta.

O Brasil, senhores de Veja, é este negrinho.

Está cheio de deformações, de cicatrizes, de desvios de conduta, de desesperança e fatalismo.

Estas marcas, nele, foram você que as fizeram, abandonando-o à sua própria sorte, vendo crescer gerações nas ruas, ignorando-os, desprezando.

Tudo estaria bem se ele estivesse lá, no gueto das favelas, tendo uma existência miserável e conformada. Ou sendo um dos muitos que, por uma força até inexplicável, conseguem se sacrificar, como seus pais se sacrificam, para ter uma pobre escola pública, um trabalho mal-pago, uns bailezinhos funk por lá mesmo, com as devidas arrochadas da PM, os capitães de mato, negros e pardos como eles, mas a serviço dos “buana”.

Não é isso o que diz um dos “civilizados” aos quais a Veja serve de megafone, como está lá em cima?

A pobreza em que os governos que vocês apoiam, as elites que vocês representam e os interesses a que vocês servem tem, entretanto, destes efeitos colaterais.

Porque aquele menino, como o Brasil, vê o mundo como vocês mostram, canta as músicas que vocês tocam, pensa o que vocês martelam em sua cabeça, tem os desejos que vocês glamourizam.

É foda, foda é assistir a propaganda e ver/Não dá pra ter aquilo pra você

E o que tem pra eles, mesmo um pouquinho, vocês combatem furiosamente: uma bolsa-família, um salário mínimo menos pior, uma cota para a universidade…

Populismo, dizem vocês…

Aquele menino e as mazelas de sua vida nunca tiveram de vocês o tratamento do “Rei dos Camarotes”, aquele idiota.

Ou como o “Rei dos Tribunais”, que vocês bajulam porque, politicamente, lhes é interessante explorar seu comportamento para atacar o Governo, embora ele tenha ficado quieto diante desta monstruosidade, quando gosta tanto dos holofotes para outros temas.

Aliás, quanto ele terá contribuído para a visão do “mata e esfola”, do pré-julgamento, do “não tem lei” para quem eu ache bandido?

Vocês não fazem uma matéria sobre os monstros que andam em bando, encapuzados, de porrete na mão, para distribuir bordoadas no “lixo social”, lixo que o seu sistema de poder produz há séculos.

Aqueles que tentam amenizar um pouco que seja isso é tratado como um primitivo, um arcaico, que não entendeu que só “o mercado” nos salvará.

Ou um “escravo”, como os médicos que aceitaram ir tratar dos negrinhos da periferia ou do interior, onde os coxinhas da Veja não querem ir.

O mercado do qual o menino terá – se tiver – a xêpa.

E ele tem direito a mais, porque ele brotou – feio e torto – desta terra. Não veio de fora para fazer fortuna entre nós e não ser um de nós.

O negrinho está acorrentado, Veja, e acorrentado por quem o domina.

O Brasil também, e também seu Governo que, se não se “comportar” para com os que de fato o dominam, levará mais bordoadas do que já leva, por sua insubmissão.

Acorrentado por uma cadeia mental, a mídia, uma corrente da qual vocês são um dos maiores e mais odiosos elos.

Aquele negrinho não pode ter um destino próprio, apenas o papel que lhe derem, como o Brasil não pode ter seu próprio destino, aquele que convém a vocês e não nos tira do mesmo lugar.

Esta corrente, entretanto, é podre.

Podre, podre de não se poder disfarçar o fedor que exala.

E está se esgarçando, para desespero dos que contam com ela para nos manter atados.

O “Brasil equilibrado, rico em petróleo, educado e viável” que vocês dizem que só o Governo enxerga, de uns anos para cá, surgiu diante do povo brasileiro, depois de décadas de fatalismo de “este país é uma merda mesmo” que vocês nos inculcaram, a nós, os negrinhos.

E ele nos atrai com tanta força que não será esta corrente imunda, de elos podres, que o deterá.

Por mais que vocês se arreganhem, como fazem os impérios em decadência, por mais que se comportem, nas bancas, como aqueles facínoras de porrete, será inútil.

Vocês já não são a única voz, embora muitos ainda os temam e procurem, inutilmente, cair nas suas boas graças com juras de vassalagem ao que vocês representam.

O mundo de vocês é o passado, é o da escravidão, é o da aristocracia que, tão boazinha, até deixa entrar alguns negrinhos na cozinha, desde que se comportem e não façam sujeira.

É o passado, porque o futuro tem uma força tão grande, tão imensa, tão inexorável que, logo, vocês penderão de um poste.

Não, fiquem calmos, não estou sugerindo enforcamentos, como foi o do Mussolini…

Apenas penderão como um elo roto de um poste velho e carcomido, que não tem mais luz , nem serventia.


Veja é a barbárie!



8 de fevereiro de 2014 | 06:30 Autor: Miguel do Rosário




Artigo essencial do Rodrigo, desmascarando o “mandrake” da Veja, tentando jogar uma cortina de fumaça sobre o fascismo que ela mesmo incentiva.

*
“Veja” é a barbárie: jornalismo justiceiro

“A “Veja” é a barbárie. A “Veja” – se pudesse – prenderia o pescoço do povo brasileiro no poste. Mas não vai conseguir. Vai perder – de novo.”

por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador.

Nas redes sociais, tarde da noite de sexta-feira, jornalistas afinados com o tucanato e militantes da esquerda extremada se esparramavam em elogios à capa da “Veja”. Eu, que procuro manter distância sanitária da revista, aproximei-me da capa. E só consegui enxergar um gesto de oportunismo barato.

A “Veja” expõe a imagem – chocante, lamentável, triste – do rapaz preso pelo pescoço num poste na zona sul carioca, e aproveita a cena não para refletir sobre a tradição oligárquica brasileira, não para pensar sobre nossa história de 300 anos de escravidão, ou sobre nossa elite que reclama de pobres nos aviões e clama sempre pela resposta fácil do liberalismo de araque e da violência de capatazes. Não. “Veja” usa a foto terrível em mais uma tentativa para desgastar a imagem do Brasil; e também – que surpresa – para culpar o “governo”. Que governo? Ah, não é preciso ser muito esperto pra descobrir…

Emoldurando a foto triste, “Veja” berra em letras garrafais: “Civilização” e “Barbárie”. E depois acrescenta a legenda malandra, velhaca: “A volta dos justiceiros, criminosos impunes, colapso no transporte, caos aéreo. Onde está o Brasil equilibrado, rico em petróleo, educado e viável que só o governo enxerga”.

Certamente, o Brasil “equilibrado” não está nessa revista. “Veja” pratica o jornalismo da barbárie, um jornalismo que escreve “estado” assim – com “E” minúsculo – numa espécie de bravata liberal fora de época. “Veja” envenena o país todos os dias, com blogueiros obtusos, asquerosos, que falam para um Brasil pretensamente senhorial, como se ainda estivéssemos antes da Revolução de 30.

Curioso, também, ver a “Veja” falar em “barbárie” e em “criminosos impunes”. Logo essa revista, tão próxima do bicheiro Cachoeira, pautada pelo bicheiro, amiga do bicheiro. A tabelinha com Cachoeira é – sim – um exemplo perfeito desse Brasil de criminosos impunes.

A “Veja”, que tenta pegar carona na imagem do rapaz preso pelo pescoço, pratica um jornalismo justiceiro – que invade quartos de hotel, “julga” e “condena” sem provas, inventa fatos, publica grampos sem áudio, alardeia contas no exterior e dólares em caixa de whisky. Tudo falso, falsificado. Um jornalismo que acredita em boimate e Gilmar Mendes.

A revista não tem moral para falar contra a “barbárie”, nem contra os “justiceiros”. E não tem, precisamente, por praticar um jornalismo que é a própria encarnação da barbárie, da falta de escrúpulos, um jornalismo justiceiro.

O Brasil do lulismo tem muitos problemas. Isso é evidente. Mas não venha a “Veja” querer apresentar a receita de “Civilização” ao Brasil. A receita da “Veja” é a mesma que os EUA oferecem à Ucrânia.

Está claro, por essa capa oportunista e velhaca, qual é a pauta dos setores que não aceitam o Brasil um pouquinho mais avançado dos últimos anos: é jogar tudo no “caos”, na “barbárie”, na insegurança. O Brasil é a jóia da coroa na América Latina em 2014. Tão importante quanto a Ucrânia no leste europeu, tão estratégico quanto a Síria no Oriente Médio.

Não sejamos ingênuos. A velha imprensa brasileira – que se reúne com embaixadores dos EUA às escondidas (isso desde 64, mas também em 2010 – como nos revelou o Wikileaks) – é parte decisiva no jogo pesado que veremos em 2014.

A oposição brasileira não tem programa. A economia não afunda como gostariam os urubulinos. Portanto, é preciso produzir a pauta do caos. Esse é o caldo de cultura em que podem prosperar candidaturas “justiceiras” que a “Veja”, os mervais e outros quetais estão prontos a lançar.

Para retomar o Estado brasileiro, eles pouco se lixam se o preço a pagar for a ebulição social. Aécio e Eduardo não darão conta dessa pauta da “ordem contra a barbárie”. A pauta do caos e do Brasil “inviável” (que está na capa da “Veja”) é boa para aventuras autoritárias – semelhantes ao janismo de 1960.

Quem pode encarnar esse figurino? Quem? O terreno vai sendo preparado…

Não creio que o povo brasileiro – equilibrado, sim! E que trabalha duro para construir um país “viável”, sim – não creio que a maioria de nosso povo embarque na aventura da “ordem contra a barbárie” – proposta pela revista. Mas a direita asquerosa e velhaca vai tentar.

O roteiro está claro. É preciso estar atento. E não cair na esparrela de acreditar que a “Veja” – de repente – converteu-se à “Civilização”.

A “Veja” é a barbárie. No jornalismo, na política, na vida do brasileiro comum.

A “Veja” – se pudesse – prenderia o pescoço do povo brasileiro no poste. Mas não vai conseguir. Vai perder – de novo.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Para aqueles que não vêm diferenças entre governos e tratam apagão como se fosse genérico!

O “planejamento energético” de FHC: “Você apagou a luz e iluminou o Brasil”.
7 de fevereiro de 2014 | 13:54 Autor: Fernando Brito




A gente às vezes tem de voltar atrás e ir buscar no passado situações que a galera de 20, 25 anos não tem nem como recordar, porque era bem criança.

Mas a frase aí de cima não é piada: foi dita pelo senhor Fernando Henrique Cardoso, em 19 de fevereiro de 2002, há 11 anos atrás, para marcar o fim de nove meses de racionamento de energia elétrica.

O país havia privatizado – praticamente doado – as suas empresas de energia elétrica a partir de 1997 e o resultado foi um corte completo nos investimentos em transmissão e geração de energia.

Com a crise, FHC saiu correndo atrás do prejuízo e ofereceu mundos e fundos a quem viesse montar termoelétricas no Brasil. Mundos e fundos que, claro, eram os do povo brasileiro.

A Petrobrás foi obrigada a fazer contratos ruinosos, se obrigando a comprar energia gerada pelas térmicas pelos olhos da cara, tão caro que, adiante, a empresa acabou comprando as próprias térmicas, para, pelo menos, ter prejuízo “consigo mesma”.

Agora julgue se a situação é parecida, apesar da mais severa estiagem vivida – ao menos aqui no Rio de Janeiro – desde 1967.

Quando a Presidenta Dilma Rousseff duvida publicamente de que tenha sido algum “raio” que causou a interrupção desta semana, ela está, na verdade, mandando um recado para as operadoras – que agora são privadas – de energia elétrica.

- Não armem “caos” para conseguir mais dinheiro do Governo.

É claro que a situação energética, longe de ser a oitava maravilha do mundo depois de um ano de seca, como foi 2013, e de um início de 2014 de calor infernal e recordes diários de consumo.

Mas tem caroço debaixo desse angu, porque as elétricas nãos estão nada contentes com a política de mocidade tarifária que o Governo adotou, tanto que já estão arranjando “especialistas” para condenar o modelo.

Tem gente doida por um “apagranas”.

Vá aos balanços e veja se elas estão tendo prejuízos.

O sucesso do leilão, hoje, do linhão que vai trazer a energia de Belo Monte – que estamos tentando há anos e anos construir, sob a mais pesada oposição dos que reclamam da escassez de energia – prova que as tarifas não são baixas e que poderiam até ainda cair.

Ou você acha que os chineses da Smart Grid, que opera o consórcio vencedor com a Eletrobras veio para cá para fazer caridade?

Assim que vierem as chuvas atrasadas, a enxurrada leva essas armações que usam a seca real para ver se os bolsos enchem mais ainda.


domingo, 2 de fevereiro de 2014

Ganhadores e perdedores da Cúpula de Havana

Finalizada a 2ª Reunião da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, a CELAC, pode-se afirmar que um dos grandes derrotados foi o governo dos Estados Unidos. Não apenas por sua ausência na reunião. Mas porque o encontro foi em Cuba, o que significou um revés instantâneo para Washington na sua tentativa de isolar a ilha do mundo.

A visita do próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, legitimando a reunião, suas conversas com Fidel e Raúl Castro e sua visita à Escola Latino-americana de Medicina (ELAM) foram parte de uma vitória política, diplomática (e também simbólica) da ilha.

“Cuba tem uma longa história de cooperação. Os médicos cubanos são os primeiros a chegar e os últimos a sair. Cuba pode ensinar ao mundo sobre o seu sistema de saúde, baseado nos cuidados primários, com importantes conquistas, como uma baixa mortalidade, uma maior esperança de vida e uma cobertura universal”, foi a contundente frase de Ban Ki Moon durante sua visita à ELAM, algo que, em geral, os grandes meios de comunicação do continente não divulgaram.

Na plenária geral de presidentes, Rafael Correa despertou a todos com sua crítica frontal à OEA. No auditório estava menos que seu secretário-geral, José María Insulza – que foi a Havana desprestigiado, assumindo uma derrota (ainda relativa) do organismo que dirige perpetrada pela própria CELAC.

“Para que serve a OEA se não é capaz de rechaçar o colonialismo britânico nas Ilhas Malvinas; se tem sua sede no país do criminoso bloqueio a Cuba?”, perguntou o presidente equatoriano, que também afirmou que “a única forma de se libertar do império do capital é a integração real dos países da região”.

A luta pela soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas foi um eixo transversal na quase totalidade das intervenções, inclusive na de Cristina Fernández de Kirchner, que denunciou a violação do Tratado do Tlatelolco – relativo à desnuclearização da América Latina – pela Grã-Bretanha, através de submarinos nucleares no Atlântico Sul.

O combate à pobreza e à desigualdade foi outro tópico trabalhado pela maioria dos Chefes de Estado, em uma América Latina e Caribe com cerca de 50 milhões de pobres.

Saiba Mais: Unisinos


Comentário do Senhor C.:

- E, provavelmente, cantaria um certo senhor Caetano; "Enquanto pobres patetas professam seu ódio ideológico a ilha, o mundo gira, a lusitana roda, e a unidade latino-americana caminha. E o povo cubano, e não Fidel apenas, vai marcando com cores vivas o seu papel na marcha singular da história" 


sábado, 1 de fevereiro de 2014

“Na ditadura dos Castro, todo mundo come. E não são criancinhas!”

por Rui Daher, reproduzido de Tijolaço, do Fernando Brito.



Rui Daher é produtor rural, colaborador da CartaCapital e, agora, titular de um blog no Terra Magazine.

Gosto de lê-lo, não é rabugento e mal-humorado. Do “rolezinho” à biotecnologia, não foge de assunto nenhum.

E nos brinda, esta semana, com um artigo delicioso, onde troca, sem remorsos, a divagação sociológica pela praticidade de quem lida com plantar e colher.

E dá boa informação, que devia envergonhar os que se dizem “mercadistas” e, como sectários, deixam de ver que Cuba tem muito a negociar conosco e o Brasil, com eles.

Um país pobre, carente de investimentos e de tecnologia.

Mas cheio de lições, sobretudo a de que é possível, mesmo na carência, tratar pessoas como pessoas, com direito a comer, ter saúde e educação.

Quem sabe aquelas meninas e meninos de Fortaleza possam dar aos médicos que vem de lá cuidar da saúde dos brasileiros que eles não querem tratar uma recepção tão calorosa quanto dariam a uma banda de rock americana?

Vamos ao texto:

Emergimos como bichos-de-pé nos dedos dos EUA e da Europa
O caríssimo leitorado, por certo, tem-se esfalfado conjuminando sobre os motivos que levam jovens da periferia a se reunirem nos shoppings da cidade. Como se o fato fosse inédito e pudesse tirar as ciências sociais da letargia pós-embasbacamento com a queda do Muro de Berlim.

Somem-se a isso as multidões que irão impedir a realização da Copa do Mundo e certo neoambientalismo, que sugere brecar o crescimento mesmo em populações divididas entre miseráveis, remediados e ativistas da hipocrisia. Ricos, estes, sempre crescerão.

É justo, pois, impedir pobres de aquisições que durante séculos foram privilégio de poucos no planeta? Ou o rótulo emergente basta para a satisfação? Sim, emergimos. Como bichos-de-pé nos dedos de EUA e Europa.

Reconheço que a comunicação digital e as redes sociais trouxeram tempos árduos a quem deseja aprofundar o conhecimento. É muita informação. Poderia fazer desta coluna um refresco, anunciando estarmos próximos de ter cebolas longa vida, adensar o plantio de algodão e plantar canola como alternativa ao milho safrinha. Temas leves e da minha alçada.

Creio, no entanto, que assim não recolheria dedinhos de recomendação nem os louros de abundantes comentários. O brasileiro internáutico está mais para polêmicas do que para polímeros recobrindo sementes.

Vamos, então, de Cuba, motivo frequente de acirrados debates, ainda mais em semana presidencial e portuária na ilha do Caribe. Como dizia Caetano Veloso a Dona Canô: “Mamãe, eu quero ir a Cuba, quero ver a vida lá, e quero voltar”.

Na ditadura dos Castro todo mundo come. E não são criancinhas. Dezesseis países cumpriram a meta estipulada pela FAO, em 1996, de erradicar a fome. Cuba foi um deles. Apesar do embargo norte-americano e dos editoriais em nossas folhas e telas cotidianas.

Além das pouco contestadas conquistas em saúde e educação, lá a má nutrição não atinge 5% da população. Pouca vantagem nisso, dirão. O povo quer mesmo é votar, no que tem sido impedido pelo regime. Ainda assim a notícia é boa. Vai que um dia, bem alimentados, recolham forças para derrubá-lo.

A ilha caribenha tem aproximadamente 11 milhões de hectares. Segundo a FAO, planta em 60% da área. Baita monocultura. A cana-de-açúcar representa 90% da produção física. O saldo é preenchido com frutas e bom tabaco. A exportação de “puros” beira 200 milhões de dólares. Entre as frutas, destaca-se o grapefruit. Talvez na esperança da volta do turismo norte-americano.

Em 2012, o valor da produção dos 20 principais produtos agropecuários cubanos chegou a pouco mais de 2 bilhões de dólares. Na última safra, com o mesmo número de produtos, o Brasil atingiu 180 bilhões de dólares. Tá provado que tamanho é, sim, documento. Tecnologia, também.

Cuba exporta pouco. Cerca de 750 milhões de dólares anuais. Mas isso representa 30% do total caribenho, região que não está bloqueada. Em um item, porém, Cuba é líder: exportação de falatório.

Do lado da importação, trigo, milho, soja e frango representam 90%, itens que acrescidos de açúcar, arroz, suco de laranja, café e carnes bovina e suína formam o perfil do comércio mundial de produtos agropecuários. Daí sua predominância no Brasil.

Não há muita firula tecnológica na agricultura cubana. Quando os russos por lá estiveram pouco entendiam do serviço em áreas tropicais. Hoje em dia, o Brasil, através da Embrapa e de empresas do setor sucroenergético, vem tratando do assunto. Enquanto aqui a produtividade da cana-de-açúcar, na última safra, foi de 75 toneladas/hectare, em Cuba, ela não passa de 35 t/ha.

O embargo dos EUA a Cuba vem desde 1962. Em março de 2015, no Panamá, será realizada uma nova Cúpula das Américas. Não será a hora, presidente Obama?

Mais um minuto da sua atenção. Assim como o tomate frequentou o pescoço e arrepiou os cabelos de apresentadora da TV Globo, e agora é cogitado de importação pela Argentina para ajudar a conter a inflação, o feijão, que já assombrou os semblantes de William e Patrícia, tem os preços em queda livre. Produtores não recebem mais do que 65 reais pela saca de 60 kg do produto de boa qualidade. Nos olhos dos outros não arde, certo?