Pesquisar este blog

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Aprovação ao governo Dilma




Pesquisa revela ainda que, para 51%, governo da presidenta é ótimo e bom
Mariana Londres, do R7, em Brasília


A popularidade da presidenta Dilma Rousseff continua em alta, assim como a avaliação positiva do seu governo. É o que revela a pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta sexta-feira (30): 71% dos brasileiros avaliam como ótimo e bom o desempenho pessoal da presidente no comando do país e 51% consideram o governo Dilma ótimo e bom.

A pesquisa anterior da CNI/Ibope foi realizada em julho, e avaliou, portanto, os seis primeiros meses do governo da presidente. Na pesquisa, a atuação pessoal de Dilma foi aprovada por 67%. Já o governo teve aprovação de 48% dos brasileiros.

Na pesquisa divulgada hoje, para 34% dos entrevistados, a gestão de Dilma é regular contra 36% que opinaram em julho. Ruim ou péssimo foi a resposta de 11% dos brasileiros consultados, contra 12% em julho. Nesta pesquisa, 4% não souberam avaliar o desempenho da petista.

O Ibope ouviu 2.002 pessoas em todo o Brasil entre os dias 16 e 20 de setembro. A margem de erro do é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.


Prêmio Ig Nobel 2011

'Nobel maluco' premia os 7 profetas do Apocalipse
Ig Nobel de Matemática vai para quem previu o fim do mundo sem sucesso

Cerimônia em Harvard também celebrou grupo que criou alarme à base de raiz-forte e estudo sobre besouro assanhado
Folha de S. Paulo
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON

O maior antiprêmio da ciência, o Ig Nobel, corrigiu uma injustiça histórica contra os numerólogos do Apocalipse ao listar entre os vencedores deste ano profetas que falharam em prever o fim do mundo por oito vezes.

Os vencedores de 2011 do diploma humorístico concedido todo ano a pesquisas que "primeiro fazem rir e depois fazem pensar" foram anunciados ontem em sua tradicional cerimônia na Universidade Harvard (EUA).

Nomes dos líderes espirituais americanos Pat Robertson, Dorothy Martin, Elizabeth Clare e Harold Camping foram citados com os do coreano Lee Jang Rim, do japonês Shoko Asahara e da ugandense Credonia Mwerinde.

Eles erraram a data do Apocalipse em 1954, 1982, 1990, 1992, 1994, 1997, 1999 e 2011. Ganharam na categoria Matemática por "ensinar o mundo a ter cuidado ao elaborar hipóteses e fazer cálculos".

Os profetas estavam entre os poucos vencedores que não compareceram à cerimônia de entrega. Cientistas que ganharam a láurea em em sete das dez categorias levaram a piada na esportiva e foram a Harvard para a festa.

HORA DO XIXI
Um deles foi Mirjam Tuk, da Universidade de Twente (Holanda), ganhadora em Medicina. A pesquisadora assinou um estudo mostrando como a vontade de urinar altera a capacidade de tomada de decisão das pessoas -em alguns casos, para melhor. "Mostramos que um alto grau de controle da bexiga está associado a uma maior habilidade para resistir a tentações imediatas em gerenciamento monetário", diz o estudo.

Mas um dos prêmios aclamados pelo público com maior efusão neste ano, o Ig Nobel da Paz, não foi entregue em mãos. O vencedor foi Arturas Zuokas, prefeito da cidade lituana de Vilnius, que aparece em vídeo no YouTube dirigindo um tanque de guerra e esmagando carros de luxo em vagas proibidas.

O site de vídeos, aliás, fechou pela primeira vez uma parceria com a revista "Annals of Improbable Research", organizadora do Ig Nobel, e transmitiu a cerimônia de premiação ao vivo.

O evento deste ano teve a química como tema central e foi marcado pela apresentação da ópera nerd "O Químico no Café". Rich Roberts, prêmio Nobel (não "Ig") de Medicina em 1993, entoou a canção "Os Elementos", recitando melodicamente toda a Tabela Periódica.

Outros quatro vencedores do Nobel de verdade compareceram à cerimônia para entregar os diplomas.

Também muito aplaudido foi o ganhador do prêmio de Química deste ano. Makoto Imai e seus colegas da Universidade de Ciências Médicas de Shiga mediram a quantidade exata de gotículas de wasabi (a raiz-forte usada para temperar sushi) necessária para acordar uma pessoa.
Imai patenteou seu "alarme de wasabi". Numa emergência como um incêndio, em vez de usar uma sirene, o dispositivo borrifa raiz-forte no ar e provoca irritação no nariz, despertando a todos.

Luiz Inácio Superstar



Jornal Le Monde chama Lula de “rock star”
Silvano Mendes, RFI

O vespertino Le Monde traz um artigo de página inteira sobre a homenagem feita pelo Instituto de Estudo Políticos de Paris (Sciences Po), que concedeu ao ex-presidente brasileiro o título de doutor honoris causa. O jornal diz que Lula, recebido como um “rock star”, deu uma lição de política durante sua passagem pela capital francesa.

Le Monde traz um relato detalhado da cerimônia de entrega do título de doutorado da qual Luiz Inácio Lula da Silva participou em Paris na última terça-feira. O artigo, intitulado “Lição de política de um rock star chamado Lula”, conta que os estudantes receberam o ex-presidente brasileiro “como torcedores enlouquecidos”.

A recepção calorosa foi organizada pelos estudantes latino-americanos da instituição, que ensaiaram até um trecho da canção de Geraldo Vandré, entoada no anfiteatro, escreve Le Monde. Mas o vespertino também relata alguns comentários “blasés” ouvidos na porta do instituto pouco antes da chegada de Lula. “Será que ele fala inglês”, teria dito um aluno chileno. “Parece que ele não fala nem português”, teria respondido ironicamente um colega, escreve o jornal. No entanto, poucos minutos depois esses mesmos alunos pulavam de entusiasmo ao ver o brasileiro entrar na sala “como um pop star”.


O artigo explica em seguida como o presidente comentou vários aspectos da política internacional, da crise econômica e da situação atual da União Europeia. O texto termina relatando um encontro, organizado pela rede de televisão Al-Jazira, entre Lula e jovens tunisianos, egípcios, líbios e bareinitas que o ex-presidente rememorou em seu discurso: “As pessoas querem ser livres, escolher seus dirigentes, participar das decisões importantes. A liberdade é a grande vocação da humanidade”, disse Lula. E “a democracia é a verdadeira religião desse católico”, conclui Le Monde.



Comentário do Senhor C.:

- O cara merece tudo isso!


Em defesa de valores que não devem ser negligenciados!


Alma lavada: Entidades comemoram decisão contra lei da dupla porta

por Conceição Lemes

Em todo o Brasil, entidades e movimentos comprometidos com o SUS estão de alma lavada.

Em decisão histórica, o desembargador José Luiz Germano, da 2ª Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), confirmou nessa quinta-feira, 29, a liminar do juiz Marcos de Lima Porta, da Quinta Vara da Fazenda Pública, que derrubou a lei que permite aos hospitais públicos geridos por Organizações Sociais de Saúde (OSs) vender 25% dos seus leitos e outros serviços a planos privados de saúde e particulares.

É a lei 1.131/2010, mais conhecida como lei da dupla porta.

Em agosto, os promotores Arthur Pinto Filho e Luiz Roberto Cicogna Faggioni, da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos e Saúde Pública Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE), deram entrada à ação civil pública, com pedido de liminar, contra essa lei estadual.

O juiz Lima Porta acatou a representação e concedeu a liminar, proibindo a venda de 25% dos serviços do SUS a planos privados de saúde. A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo recorreu da decisão, mas o desembargador José Luiz Germano negou o agravo.

O arrazoado do magistrado (íntegra, no final) é antológico. Emocionante. Uma peça de defesa de princípios como igualdade, dignidade da pessoa humana, saúde, moralidade pública, legalidade, impessoalidade:

“A saúde é um dever do Estado, que pode ser exercida por particulares. Esse serviço público é universal, o que significa que o Estado não pode distinguir entre pessoas com plano de saúde e pessoas sem plano de saúde. No máximo, o que pode e deve ser feito é a cobrança contra o plano de saúde. Para que isso ocorra já existem leis permissivas…”

“A institucionalização do atendimento aos clientes dos planos particulares, com reserva máxima de 25% das vagas, nos serviços públicos ou sustentados com os recursos públicos, cria uma anomalia que é a incompatibilização e o conflito entre o público e o privado, com as evidentes dificuldades de controle”.

“O Estado pretende que as organizações sociais, em determinados casos, possam agir como se fossem hospitais particulares, mesmo sabendo-se que algumas delas operam em prédios públicos, com servidores públicos e recursos públicos para o seu custeio! Tudo isso para justificar a meritória iniciativa de cobrar dos planos de saúde pelos serviços públicos prestados aos seus clientes? Porém, é difícil entender o que seria público e o que seria privado em tal cenário. E essa confusão, do público e do privado, numa área em que os gastos chegam aos bilhões, é especialmente perigosa, valendo apena lembrar que as organizações sociais não se submetem à obrigatoriedade das licitações nas suas aquisições”.

“O paciente dos planos de saúde tem a sua rede credenciada, que não lhe cobra porque isso já está embutido nas mensalidades. Se ele precisar da rede pública, poderá utilizá-la sem qualquer pagamento, mas sem privilégios em relação a quem não tem plano. A criação de reserva de vagas, no serviço público, para os pacientes de planos de saúde, aparentemente, só serviria para dar aos clientes dos planos a única coisa que eles não têm nos serviços públicos de saúde: distinção, privilégio, prioridade, facilidade, conforto adicional, mordomias ou outras coisas do gênero”.

PROMOTOR: “DECISÕES HISTÓRICAS, UMA VITÓRIA DA SOCIEDADE”

“Na prática, essa decisão desembargador José Luiz Germano reitera que o Icesp [Instituto do Câncer do Estado de São Paulo] e o Instituto de Transplantes, que foram os primeiros autorizados a comercializar seus serviços, não podem vender 25% dos leitos para planos privados de saúde”, comemora o promotor Arthur Pinto Filho. “Ambas as instâncias da Justiça de São Paulo [Quinta Vara da Fazenda Pública e TJ] entenderam que a lei 1.131/10 e seu decreto regulamentar violam completamente os princípios do SUS.”

“São decisões históricas que, por certo, levaram em conta estritamente o direito”, salienta Pinto Filho. “Mas, por certo, também foi fundamental a posição unânime das entidades e movimentos sociais de São Paulo ligados à saúde contra a essa lei extremamente perversa, injusta.”

“É uma vitória dos conselhos Nacional, Estadual e Municipal de Saúde, Cremesp, Sindicato dos Médicos, Conselho Regional de Psicologia, sindicatos e do movimento popular”, aplaude o promotor. “Mas, o mais importante, é uma vitória da sociedade, que, em 7 de abril deste ano, fez uma enorme passeata em nossa cidade e entregou ao MP uma representação contra a iníqua lei.”

” JURISPRUDÊNCIA QUE DEFENDA O CIDADÃO E O SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE”

“Esperamos que a contudente decisão do desembargador ajude a sepultar de vez a lei 1131”, afirma Mário Scheffer, presidente do Grupo Pela Vidda, entidade que liderou a representação ao MP. “Que ela sirva também de alerta aos deputados estaduais que aprovaram a 1131 em dezembro do ano passado e logo devem votar o projeto de lei que legaliza a dupla porta do Hospital das Clínicas de São Paulo. Aliás, já entramos no MP com representação contra ele.”

Gilson Carvalho, médico pediatra e de Saúde Pública e batalhador incansável do SUS, surpreendeu-se positivamente com a decisão do desembargador José Luiz Germano.

“Contávamos que a liminar iria cair horas ou dias depois. Os dias se passaram e não entendíamos o que ocorria. Finalmente hoje entendemos. A Justiça parece estar pensando diferente desde a declaração do juiz na liminar e agora do desembargador”, afirma Carvalho. “A comparação que mais se adéqua à lei 1.131 é a do casal em dificuldades financeiras que induz a filha à prostituição para manter o equilíbrio econômico e financeiro familiar.”

“Finalmente, o Judiciário parece que está dando respostas. Recentemente, tivemos decisões judiciais coibindo as OSs nos estados de Mato Grosso e Paraíba. E, sem dúvida, essa decisão do TJ-SP é a maior delas até agora”, bate palmas Paulo Navarro, presidente da Associação dos Médicos Residentes do Estado de São Paulo (Ameresp). “Que venham outras decisões tão boas. Temos pela frente ainda o julgamento da ADIn contra as OSs e vários processos nos estados e municípios acontecendo. Que se crie uma jurisprudência que defenda o cidadão e o sistema de saúde pública.”

Inegavelmente, uma vitória de todas e todos que acreditam no SUS e na Justiça.

Comentário do Senhor C.:
- E VIVA O POVO BRASILEIRO! QUE APESAR DE TUDO, AVANÇA, VIVE, LUTA E CONQUISTA. E TEM UMA DIGNIDADE QUE DEVIA FAZER CORAR DE VERGONHA OS PRÓCERES E ACÓLITOS DA INJUSTIÇA, DA MENTIRA E DO DESCOMPROMISSO!


Fatos contra versões; fotos contra palavras!

O Lírio Verde reproduz matéria do site Viomundo:

Explicando a defesa dos automóveis importados



Um leitor explica, com a imagem acima, a incansável defesa que parte de nossa gloriosa mídia faz da “liberdade de mercado” para os automóveis importados (para quem não compra jornal ou não é de São Paulo, trata-se de um anúncio-envelope que cobre parte da primeira página).

Resumo da ópera: o Brasil que se exploda, o que eu quero é faturar:

30/09/2011 – 11h02
Governo espera propostas para flexibilizar IPI, diz Pimentel

CIRILO JUNIOR
DE SÃO PAULO

O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) disse nesta sexta-feira que cabe às montadoras que tenham projetos de fábricas no país apresentarem propostas para que o governo possa flexibilizar a cobrança de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre carros importados.

Conforme a Folha informou hoje, o governo deu sinal verde para aliviar montadoras do imposto mais alto desde que instalem unidades no Brasil e se comprometam com um cronograma escalonado para atingir no médio prazo 65% de conteúdo local.

“Empresas sérias que querem vir desenvolver produtos no Brasil terão suas propostas examinadas. Até o momento, não recebemos nenhuma”, disse, após participar do Exame Fórum, em São Paulo.

Pimentel acrescentou que o governo recebeu sinalizações de empresas interessadas em fabricar no país e que está aberto a examinar as propostas que forem apresentadas.

Sobre o caso da Hyundai, que desenvolve uma fábrica em São Paulo, ele disse que a empresa poderá ser enquadrada no regime, desde que atenda às condições exigidas.

“PIRATARIA”

Ontem (29), a presidente Dilma Rousseff afirmou que o aumento nas alíquotas de IPI para carros importados é uma proteção ao emprego no Brasil. Em uma fala forte, ela demonstrou que não pretende recuar na medida, que recebeu críticas até mesmo dentro do governo.

“É uma medida a favor do emprego e contra o fato de que nosso mercado interno não será objeto de pirataria de país nenhum”, disse.

“Todas as empresas que estão queixando não produziam aqui. Estavam simplesmente montando e usando mecanismos para importar e usar o nosso mercado interno. A indústria automobilística brasileira está intacta”, acrescentou.

Somos um povo honrado, governado por ladrões?



O Lírio Verde reproduz artigo de Maria Inês Nassif, na Carta Maior:
A UDN, os IPMs e a mídia brasileira

O “jornalismo de denúncia” que se tornou hegemônico na grande imprensa traz o componente de julgamento sumário dos IPMs pós-64 e o elemento propagandístico udenista do pré-64. Assume, ao mesmo tempo, as funções do julgamento e da condenação, partindo do princípio de que, se as instituições não funcionam, ele as substitui.

Maria Inês Nassif

Logo após o golpe militar de 1964, os “revolucionários”, inclusive os de ocasião, aproveitaram o momento de caça às bruxas para eliminar adversários. O primeiro ato institucional cuidava de tirar da arena política os que haviam cometido “crimes de opinião”, condenados no rito sumário de uma canetada, de acordo com os humores das autoridades de plantão.

Os Inquéritos Policiais Militares (IPMs) davam conta dos opositores que não podiam ser enquadrados na acusação de subversão: eram tribunais que, simultaneamente, investigavam e condenavam acusados de corrupção. Sem direito à defesa num caso e no outro, os políticos incômodos aos novos donos do poder saíam de cena, pelas listas de cassados publicadas pelo Diário Oficial, ao arbítrio dos militares, e pelos resultados de inquéritos aos quais não tinham acesso nem para saber por que estavam sendo cassados.

A bandeira da anticorrupção tomada pelos militares do braço civil da revolução, a velha UDN, que havia comovido as classes médias, foi consumada pelos IPMs. A presteza da exclusão de “políticos corruptos” [aqui entre aspas porque os processos não foram públicos e eles não tiveram direito à defesa] do cenário por esse mecanismo era um forte apelo às classes que apoiaram o golpe, ideologicamente impregnadas pelo discurso udenista anticorrupção que prevaleceu na oposição a João Goulart, antes dele a Juscelino Kubitschek, antes de ambos a Getúlio Vargas, na falta de uma proposta efetiva que permitisse a essa parcela da elite conquistar o poder pelo voto.

Era, no entanto, uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que satisfazia os anseios de moralização da política da classe média e das elites (o número de punições e a exposição pública dos supostos meliantes conta muito mais para o público conservador do que a justeza da condenação), era um instrumento de reacomodação das forças políticas civis que se dispunham a dar apoio ao poder militar. A delação – tanto política como moral – foi usada para redefinir a geografia do mando local, os grupos preferencialmente perfilados ao novo governo.

O fiscal de quarteirão não era um parceiro a ser desprezado pelo novo regime: foi uma peça importante na reacomodação de forças políticas e deu número, volume amplificado, às supostas apurações de denúncias de corrupção. Quanto maior o número de cassações por desvio de dinheiro público que saíssem no Diário Oficial, mais a imagem de moralização era imprimida ao poder militar, independentemente da culpa efetiva dos punidos. Os inocentes jamais tiveram chances de provar a sua inocência. Mesmo devolvidos à vida pública após 10 anos de cassação (essa era a punição), carregaram por toda a vida a pecha de “cassado por corrupção”.

Existiam os casos de políticos notoriamente corruptos, é lógico, mas após 10 anos de cassação eles voltaram à arena eleitoral dispostos a convencer os seus eleitores de que eles haviam sido injustiçados. Tinham mais capacidade para isso do que os punidos injustamente, até porque eram chefes de grupos políticos locais e nesses lugares a política de compadrio se misturava e se aproveitava da corrupção para manter votos em regiões de baixa escolaridade e muita fome.

É tênue a linha que separa o julgamento sumário – pelo Estado ou por instituições que assumem para si o papel de guardiães plenipotenciários da justiça e da verdade – da injustiça. O “jornalismo de denúncia” que se tornou hegemônico na grande imprensa traz o componente de julgamento sumário dos IPMs pós-64 e o elemento propagandístico udenista do pré-64. Assume, ao mesmo tempo, as funções do julgamento e da condenação, partindo do princípio de que, se as instituições não funcionam, ele as substitui. Da mesma forma que o IPM, a punição é a exposição pública. E, assim como os Estados de regimes autoritários, o direito de defesa é suprimido, apesar da formalidade de “ouvir o outro lado”?.

Este é um lado complicado da análise da mídia tradicional porque traz junto o componente moral. Antes de assumir o papel de polícia e juiz ao mesmo tempo, consolidou-se como porta-voz da moral udenista. Hoje, as duas coisas vêm juntas: o discurso de que a política é irremediavelmente corrupta e a posição de que, sem poder na política institucional, já que está na oposição, a mídia pode revestir-se de um poder paralelo e assumir funções punitivas. A discussão é delicada porque, não raro, quem se indispõe contra esse tipo de poder paralelo da imprensa é acusado de conivente com a corrupção, mesmo que a maioria das pessoas que ouve o argumento reconheça que o julgamento da mídia tradicional é ilegítimo, falho e tem um lado, isto é, não é imparcial.

O marketing da moralidade vende muito jornal e revista na classe média, mesmo quando os erros do julgamento sumário pelas páginas da imprensa sejam muitos e evidentes. O udenismo também tem o lado da propaganda política, de desqualificação do processo democrático – não está em questão o fato de que existem políticos corruptos, mas a ideia de que a política é, em si, corrupta.

Diante desse histórico da imprensa brasileira, a notícia da tal Folhaleaks é particulamente preocupante. Em vez de Wikileaks – uma organização não governamental que lida com informações vazadas de governos e as submete ao escrutínio da apuração de veículos para divulgação – é Folhaleaks: um canal aberto a denúncias anônimas, que podem envolver os mais diversos e obscuros interesses por parte de quem denuncia. O risco é que essa forma de captação da informação reinstitua a política da denúncia do fiscal de quarteirão, mas desta vez executada não pelo Estado, mas como demonstração do poder de fazer e desfazer reputações que se autodelegou a mídia.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Pausa musical: Adele

Mais uma de Adele



Comentário do Senhor C.:

- Quanto mais a escuto, mais penso na Amy. E esta garota de voz marcante tinha apenas 19 quando já cantava assim. Que delícia!

O medo do novo


by Cronicas do Motta


As várias decisões da Justiça de embargo de obras importantes de infraestrutura, como essa recente de um juiz do Pará que manda parar a construção da usina de Belo Monte a pretexto de proteger a população que vive da pesca de espécies ornamentais do rio Xingu, são apenas um reflexo de um país que assiste atônito ao seu próprio desenvolvimento.

De certa forma, os juízes apenas expõem em suas sentenças as dúvidas da sociedade, que se divide entre o desejo de usufruir o bem-estar que esses grandes empreendimentos vão proporcionar e o medo de que a mudança acabe com o modo de vida a que as pessoas se acostumaram.
No fundo, tudo não passa de medo do novo.
E para não deixar isso explícito, muitos pretextos são usados. Esse de proteger a flora e a fauna da região é um dos mais usuais. Mas ele se mostra frágil na medida em que se sabe que, muitas vezes, a devastação ocorre há muito tempo, sem que até então nenhuma autoridade fizesse absolutamente nada para impedí-la.
Outro componente que se identifica claramente nessas decisões judiciais é o que objetiva pressionar o investidor a fazer mais concessões aos que de uma forma ou outra, serão atingidos pelo empreendimento. Todo projeto do porte de uma usina como Belo Monte, por exemplo, que vai causar grande impacto socioambiental, traz uma série de contrapartidas econômicas e sociais para quem habita suas imediações. Assim, uma sentença como essa última do juiz paraense não deixa de ser uma forma de pressionar o empreendedor por mais benefícios à população que inevitavelmente será afetada pela obra.
Esse intenso ativismo judicial é algo recente, segue em curso com a retomada dos grandes planos do governo federal em áreas essenciais de infraestrutura, como as de energia e transporte, depois de anos e anos sem que nada fosse feito, o que atrasou sobremaneira a possibilidade de crescimento do país.
E, pelo que se anuncia, os juízes terão ainda de gastar muito tempo para decidir em que Brasil seus filhos e netos viverão: se naquele profundamente arraigado num passado contemplativo ou este novo que está nascendo, com o apetite de um adolescente que descobre quanto o mundo é grande e quantas são as oportunidades para conhecê-lo melhor.





Por que o Pará cantou o Hino Nacional Brasileiro?



Walter Falceta ( através do @cidoli )

Antes da partida contra a Argentina (Super Clássico das Américas), nesta quarta-feira, a torcida paraense deu show de civilidade no lotado Estádio Mangueirão.

Cessou a amostra instrumental do Hino Nacional, mas o povo resolveu seguir até o fim da primeira parte da composição, à capela.

As imagens de TV mostram o povo feliz com a saudável molecagem, orgulhoso, muitos com as mãos sobre o peito.

São crianças, jovens, idosos, gente negra, branca, índios, representantes da comunidade nipônica e, certamente, a linda mistura de tudo isso.

O craque Neymar, ele próprio tão espetacularmente miscigenado, comove-se com a cantoria, marcada na percussão das palmas sincronizadas. Comoção bem comovida.

Talvez, mais do que a festa, seja conveniente tomar esse espetáculo como lição para o Sul-Sudeste, onde o Hino é frequentemente ultrajado pelos torcedores, especialmente pelos filhos das elites, sempre envergonhados de sua nacionalidade.

Cabe também uma reflexão sobre o ódio que determinados brasileiros têm do próprio país, expresso diariamente nos comentários neofascistas dos grandes jornais dessas regiões.

Esse comportamento, aliás, é resultado da campanha diária, massiva, que os mesmos veículos fazem para desmoralizar o país e seu povo.

O jornalismo de “pinça” só destaca o que é ruim, o que é nefasto, o que não presta. Obsessivamente.

O processo de extinção da miséria parece não existir, tampouco a expansão do consumo popular.

E cada agulha sumida numa repartição pública torna-se um escândalo.

Pior: a indignação é seletiva, pois o graúdo que desvanece nas administrações estaduais neoliberais nunca vira manchete.

Se há notícia boa do Brasil, ela é minimizada. Se o positivo é notório, emprega-se logo uma adversativa, um “mas”, para reduzir ou neutralizar o impacto da mensagem.

São espantosos os malabarismos aritméticos, os artifícios de linguagem e os sofismas utilizados para transformar em ruim o que é bom.

São gráficos lidos de trás para frente ou pizzas que têm apenas uma ou outra fatia destacada.

Disseminar a síndrome de vira-lata, obviamente, tem um objetivo claro.

É recalcar os tradicionais estratos médios, é causar rancor, é produzir a intriga, é gerar dissensão, é fomentar o ciúme, é espalhar o ódio entre irmãos.

Afinal, para os obsoletos da elite midiota, é preciso difundir todos os dias a ideia do caos, mesmo que imaginário.

Para quem perdeu, faz-se urgente uma insurreição para acabar com a festa do crescimento econômico extensivo, da inclusão social e da democratização de acessos.

Enquanto eles não passam, vale a pena ficar com o Pará, com os brasileiros do Pará. Viva o Pará!




Comentário do Senhor C.:

- E viva o Brasil, que resiste, cresce e se agiganta pelo seu povo, apesar do ranço, da raiva, da intriga e da adversidade de suas 'elites', seus jornalões e suas tevês...



Lula recebe honoris causa em Paris sob aclamação.


A elite e seu porta-voz, o FHC, jamais o perdoarão
Saiu no Estadão:Aclamado por estudantes, Lula recebe honoris causa em Paris

Recebido como pop-star, ex-presidente elogia o próprio mandato e dá conselhos à Europa em crise durante cerimônia
Andrei Netto, correspondente de O Estado em Paris

PARIS – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma recepção de pop star neta terça-feira, 27, em Paris, durante a cerimônia de entrega do título de doutor honoris causa pelo Instituto de Estudos Políticos (Sciences-Po), o maior da França. Em seu discurso, o ex-chefe de Estado enalteceu o próprio mandato e multiplicou os conselhos aos líderes políticos da Europa, que atravessa uma forte crise econômica. Antes, durante e depois, Lula foi ovacionado por estudantes brasileiros, na mais calorosa recepção da escola desde Mikhail Gorbachev.

A cerimônia foi realizada do auditório do instituto, com a presença de acadêmicos franceses e de quatro ex-ministros de seu governo: José Dirceu, Luiz Dulci, Márcio Thomaz Bastos e Carlos Lupi. Vestido de toga, o ex-presidente chegou à sala por volta de 17h30min, acompanhado de uma batucada promovida por estudantes. Ao entrar no auditório, foi aplaudido em pé pela plateia, aos gritos de “Olé, Lula”.

Em seguida, tornou-se o primeiro latino-americano a receber o título da Sciences-Po, já concedido a líderes políticos como o tcheco Vaclav Havel. Em seu discurso, o diretor do instituto, Richard Descoings, se disse “entusiasta” das conquistas obtidas pelo Brasil no mandato do petista. “O senhor lutou para que o Brasil alcançasse um novo patamar internacional”, disse, completando: “Não é mais possível tratar de um assunto global sem que as autoridades brasileiras sejam consultadas”.

Autor do “elogio” a Lula – o discurso em homenagem ao novo doutor -, o economista Jean-Claude Casanova, presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas, lamentou que a Europa não tenha um líder “de trajetória política tão iluminada”. Casanova pediu ainda que Lula aproveitasse “sua viagem para dar conselhos aos europeus” sobre gestão de dívida, déficit e crescimento econômico.

Lula aceitou o desafio e encarnou o conselheiro. Em um discurso de 40 minutos, citou avanços de seu governo, citando a criação de empregos, a redução da miséria, o aumento do salário mínimo e a criação do bolsa família e elogiou sua sucessora, Dilma Rousseff. “Não conheço um governo que tenha exercido a democracia como nós exercemos”, afirmou, no tom ufanista que lhe é característico.

Então, lançou-se aos conselhos. Primeiro criticou “uma geração de líderes” mundiais que “passou muito tempo acreditando no mercado, em Reagan e Tatcher”, e recomendou aos líderes da União Europeia que assumam as rédeas da crise com intervenções políticas, e não mais decisões econômicas. “Não é a hora de negar a política. A União Europeia é um patrimônio da humanidade”, reiterou.

Na saída, estudantes cantaram a música Para não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré, e se acotovelaram aos gritos por fotos e autógrafos do ex-presidente, que não falou à imprensa. Impressionado com a euforia dos estudantes, Descoings comparou, em conversa com o Estado: “A última vez que vi isso foi com Gorbachev, há cinco ou seis anos. Mas com Lula foi ainda mais caloroso”.


A Copa e a rua


Implosão da velha Fonte Nova, em 2010: "Corremos o risco de ver riscados da paisagem do estádio o "baleiro", de cesta cheia de 'jujubas, chocolates e queimados', e o sorveteiro, a quem devemos o prazer de um duplo de mangaba e côco, gentes e coisas que aprendemos a amar em tarde de jogo"

Paulo Miguez
De Salvador (BA)

Preocupam a todos as muitas questões envolvendo a realização, no próximo ano, da Copa do Mundo de Futebol em nosso País. O repertório é grande: a construção dos estádios, a reforma dos aeroportos, os investimentos em mobilidade urbana nas cidades-sede dos jogos, a questão da transparência no uso do volume considerável de recursos públicos que estão sendo movimentados para o evento, etc., etc.

Mas uma questão em especial tem me preocupado. Como será tratada a cultura das ruas das nossas cidades que sediarão os jogos da Copa?

Sim, a cultura das ruas, os muitos e diversos atores e suas práticas sócio-culturais que costumam povoar as ruas das nossas cidades e que constituem um traço marcante e diferenciador da vida brasileira.

Pode parecer uma questão de pouca importância diante de assuntos envolvendo investimentos vultosos e transparência no uso de recursos públicos. Mas não é.

É que a tradição brasileira neste quesito é triste. A regra tem sido, quase sempre, retirar das ruas o que possa parecer, aos governantes de plantão, sinais de pobreza, de barbárie - afinal, "pega mal" para o País, ainda mais agora que virou emergente, apresentar aos olhos do mundo, no momento em que todos os olhos estarão voltados para nós, esta parte do nosso povo que insiste em ser brasileiro e que nesta aventura cotidiana tem como único território a sua disposição as ruas.

Um exemplo? Quando a Rainha da Dinamarca visitou Salvador em 1999, a polícia baiana resolveu fazer uma "limpeza" na cidade para receber a soberana. Prendeu, sem ordem judicial, por alguns dias, vários homossexuais e travestis - se soube do acontecido, Margareth II deve ter achado a ação policial no mínimo estranha. Claro, a Dinamarca foi um dos primeiros países do mundo a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A preocupação, aqui, não é só minha. Nesta direção manifestaram-se três alemães, consultores de cidades-sedes que participaram das Copas de 2006 e 2010 e que estiveram recentemente no Brasil.

E foram claros quanto a esta questão. Sugeriram que o País deve colocar sua cultura local acima dos interesses imperiais da FIFA, mesmo que contrariando os acordos comerciais da toda-poderosa do futebol mundial.

Cito a declaração de um dos consultores: "A Copa precisa de aceitação popular para ser bem-sucedida na cidade. Para isso, a população não pode ser excluída. Tem que participar do evento... senão a Copa não dá certo".

Lembraram, os alemães, como exemplo, a Copa de 2006, quando a Alemanha jogou pesado contra as imposições da FIFA. Dentre os embates, destacaram a questão da comercialização de cervejas em Dortmund, uma das cidades-sede. A FIFA exigia que só fosse comercializada a marca Budweiser. Os organizadores locais endureceram e a FIFA foi obrigada a aceitar a venda da cerveja Dortmund, fabricada na cidade.

Diferentemente da Alemanha, em 2006, na Copa da África do Sul, em 2010, prevaleceram as imposições da FIFA. Mas, e aqui? Como vai ser? Como irão tratar esta questão?

Baiano, devo por as barbas de molho! É que corremos o risco de ver riscados da paisagem do estádio o "baleiro", de cesta cheia de "jujubas, chocolates e "queimados", e o sorveteiro, a quem devemos o prazer de um duplo de mangaba e côco, gentes e coisas que aprendemos a amar em tarde de jogo, desde os tempos da velha Fonte Nova.


Paulo Miguez é doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Atualmente é professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA e coordena o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (UFBA). Foi assessor do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil e Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura entre 2003 e 2005.



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O outro lado da foto do estudante que “atacou” Lula na Bahia

por Conceição Lemes

Terça-feira, 27 de setembro, do meio da tarde ao início da noite. Durante todo esse período o Estadãoon-line não destacou na capa nenhuma foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebendo o título de doutor honoris causa do respeitadíssimo Instituto de Estudos Políticos de Paris – o Sciences-po. É a primeira vez que a instituição pela qual passou parte da elite francesa concede o título a um latino-americano. É sua sétima condecoração.

Diferentemente de terceira-feira passada, 20 de setembro, quando Lula recebeu o honoris causa da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Estadão on-line manteve na capa, do início da tarde ao final da noite, esta foto:


Afinal de contas, o que aconteceu? Estudantes ligados ao Diretório Central dos Estudos (DCE) da UFBA resolveram “brigar” com Lula? Ele até fechou os olhos com “medo de apanhar” de um mais “exaltado?

Nada disso. Mais uma demonstração de que a mídia corporativa está mais ligada em fazer política do que em noticiar e a escolha das fotos e manchetes “faz parte”.

O competente jornalista Fernando Brito, conhecedor profundo dos desejos mais sombrios da imprensa brasileira (foi por 20 anos assessor de Leonel Brizola e hoje está com Brizola Neto), denunciou a foto no excelente Tijolaço:

A capa do Estadão on-line é uma incrível expressão de um desejo mal contido de nossa grande imprensa. Olhem aí ao lado, como Lula sofre o “ataque” de um manifestante que participava do “protesto” que “tumultou” a cerimônia de entrega do título de “Doutor Honoris Causa” ao ex-presidente na Universidade Federal da Bahia.

O jornal transforma reivindicação – 10% do PIB para a Educação, algo mais do que justo que se peça numa Universidade – em protesto e o sucesso do ato em tumulto. É só ler como são descritos o “protesto” e o “tumulto” pelo próprio jornal, lá na matéria:

Como não havia espaço no salão onde ocorria o evento, os estudantes tiveram de ficar do lado de fora. Depois, conseguiram entrar no salão, onde acompanharam o fim das homenagens a Lula e voltaram a gritar palavras de ordem – enquanto pegavam autógrafos do ex-presidente nos próprios cartazes nos quais estavam escritas as reivindicações.

Afinal, quem era o “agressor”? Depois de uma porção de ligações para Salvador acabei chegando a Tâmara Terso, estudante de Comunicação e coordenadora-geral do DCE da UFBA.

– Tâmara, você sabe quem é o aluno que queria “bater” no Lula?

– kkkkkkkkk É o Maltez, o Fernando Maltez, do setor de comunicação do DCE.

– Vocês foram à reitoria protestar contra o Lula?

– Nãããããããããããããããããããããããããããããããão! O que aconteceu foi o seguinte. Nós estávamos fazendo uma manifestação na UFBA, pedindo mais dinheiro para a saúde, para a educação… Aí ficamos sabendo que Lula estava na reitoria, recebendo o honoris causa. Fomos pra lá. Além de conhecer o Lula pessoalmente, queríamos que ele posasse com o nosso cartaz, pedindo 10% do PIB para Educação.

– E a foto com Fernando “partindo pra cima” do Lula?

– Na hora, o Maltez correu, agarrou a mão de Lula. Todos nós caímos na risada.

Fernando Maltez tem 24 anos, é torcedor do Bahia (como Tâmara) e está no último semestre do curso de Direito.

– Fernando, conta a verdade, você queria “descer o braço” no Lula?

– De jeito nenhum. Sou o maior fã. Admiro a história de vida de Lula, tenho consciência do bem que ele fez para o Brasil. É um exemplo para nós brasileiros, é um exemplo para o mundo.

– E o que aconteceu?

– Na hora, todo mundo queria autógrafo de Lula. Teve aluno que pediu pra Lula autografar até no cartaz que carregava.

– Ele autografou?

– Claro. Só que eu não tinha caneta, papel, nada na mão. Aí, disse: “Lula, não tenho, papel, caneta, então me dá um abraço?”

– Ele deu?

– Claro! Foi o dia mais emocionante da minha vida.

– E a foto do Estadão?

– Já ri muito. Estou famoso (rsr). Agora, pense bem, companheira: “Eu sou da Juventude do PT, você acha que eu iria bater em Lula? Nunca! Pode perguntar pro próprio Lula, se não foi isso o que aconteceu.

Em tempo. Finalmente, há pouco, o Estadão on-line colocou na capa a foto de Lula com o honoris causa do Sciences-po. Só diferentemente da semana passada, quando a foto do “ataque” na Bahia foi inserida no texto, ficando numa posição fixa, a dessa terça estava slide show junto com mais cinco imagens, que se alternavam na tela.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Os escravistas contra Lula

Em meio ao debate sobre a crise econômica internacional, Lula chegou a França. Seria bom que soubesse que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deveria pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria guardar recato. No Brasil, a casa grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terras e escravos. Assim, Lula, agora, silêncio, por favor. Os da casa grande estão enojados. 
O artigo é de Martín Granovsky, do Página/12.


Podem pronunciar “sians po”. É, mais ou menos, a fonética de “sciences politiques”. E dizer Sciences Po basta para referir o encaixe perfeito de duas estruturas: a Fundação nacional de Ciências Políticas da França e o Instituto de Estudos Políticos de Paris. Não é difícil pronunciar “sians po”. O difícil é entender, a esta altura do século XXI, como as ideias escravocratas seguem permeando os integrantes das elites sul-americanas. Na tarde desta terça, Richar Descoings, diretor da Sciences Po, entregará pela primeira vez o doutorado Honoris Causa a um latino-americano: o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Descoings falará e, é claro, Lula também.

Para explicar bem sua iniciativa, o diretor convocou uma reunião em seu escritório na rua Saint Guillaume, muito perto da igreja de Saint Germain des Pres. Meter-se na cozinha sempre é interessante. Se alguém passa por Paris para participar como expositor de duas atividades acadêmicas, uma sobre a situação política argentina e outra sobre as relações entre Argentina e Brasil, não está mal que se meta na cozinha de Sciences Po.

Pareceu o mesmo à historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige em Paris o Observatório sobre a Argentina Contemporânea, é diretora do Instituto das Américas e foi quem teve a ideia de organizar as duas atividades acadêmicas sobre a Argentina e o Brasil, das quais também participou o economista e historiador Mario Rapoport, um dos fundadores do Plano Fênix há dez anos.

Naturalmente, para escutar Descoings foram citados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático. Sciences Po tem uma cátedra de Mercosul, os estudantes brasileiros vão cada vez mais para a França, Lula não saiu da elite tradicional do Brasil, mas chegou ao máximo nível de responsabilidade e aplicou planos de alta eficiência social.

Um dos colegas perguntou se era correto premiar alguém que se jacta de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e o olhou assombrado. Talvez saiba que essa jactância de Lula não consta em atas, ainda que seja certo que não tem título universitário. Certo também é que, quando assumiu a presidência, em 1° de janeiro de 2003, levantou o diploma que os presidentes recebem no Brasil e disse: “É uma pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginou que o primeiro seria o de presidente da República”. E chorou.

“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção?” – foi a pergunta seguinte.

O professor sorriu e disse: “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o balanço histórico esse assunto e outros muitos importantes, como a instalação de eletricidade em favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”. E acrescentou, pegando o Le Monde: “Que país pode medir moralmente hoje outro país? Se não queremos falar destes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país teve que renunciar por ter plagiado uma tese de doutorado de um estudante”. Falava de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro de Defesa da Alemanha até que se soube do plágio.

Mais ainda: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”.


Outro colega perguntou se estava bem premiar alguém que, certa vez, chamou Muamar Kadafi de “irmão”.

Com as devidas desculpas, que foram expressadas ao professor e aos colegas, a impaciência argentina levou a perguntar onde Kadafi havia comprado suas armas e que país refinava seu petróleo, além de comprá-lo. O professor deve ter agradecido que a pergunta não tenha mencionado com nome e sobrenome França e Itália.

Descoings aproveitou para destacar Lula como “o homem de ação que modificou o curso das coisas”, e disse que a concepção de Sciences Po não é o ser humano como “uns ou outros”, mas sim como “uns e outros”. Marcou muito o “e”, “y” em francês.

Diana Quattrocchi, como latino-americana que estudou e se doutorou em Paris após sair de uma prisão da ditadura argentina graças à pressão da Anistia Internacional, disse que estava orgulhosa que Sciences Pos desse o Honoris Causa a um presidente da região e perguntou pelos motivos geopolíticos.

“Todo o mundo se pergunta”, disse Descoings. “E temos que escutar a todos. O mundo não sabe sequer se a Europa existirá no ano que vem”.

Na Sciences Po, Descoings introduziu estímulos para o ingresso de estudantes que, supostamente, estão em desvantagem para serem aprovados no exame. O que se chama discriminação positiva ou ação afirmativa e se parece, por exemplo, com a obrigação argentina de que um terço das candidaturas legislativas devam ser ocupadas por mulheres.

Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa a Lula fazia parte da política de ação afirmativa da Sciences Po. Descoings observou-o com atenção antes de responder. “As elites não são só escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores são os outros, não os que são iguais a alguém. Se não, estaríamos frente a um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas segundo entendi não ganhou uma vaga, mas foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”.

Como Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula vem insistindo que a reforma do FMI e do Banco Mundial está atrasada. Diz que esses organismos, tal como funcionam hoje, “não servem para nada”. O grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ofereceu ajuda para a Europa. A China sozinha tem o nível de reservas mais alto do mundo. Em um artigo publicado no El País, de Madri, os ex-primeiros ministros Felipe González e Gordon Brown pediram maior autonomia para o FMI. Querem que seja o auditor independente dos países do G-20, integrado pelos mais ricos e também, pela América do Sul, pela Argentina e pelo Brasil. Ou seja, querem o contrário do que pensam os BRICS.

Em meio a essa discussão, Lula chega a França. Seria bom que soubesse que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria guardar recato. No Brasil, a casa grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terras e escravos. Assim, Lula, agora, silêncio, por favor. Os da casa grande estão enojados.



A imprensa brasileira, golpista e reacionária não se conforma

Imprensa brasileira foi à França reclamar de premiação a Lula



Não pode passar batido um dos momentos mais patéticos do jornalismo brasileiro. Acredite quem quiser, mas órgãos de imprensa brasileiros como o jornal O Globo mandaram repórteres à França para reclamar com Richard Descoings, diretor do instituto francês Sciences Po, por escolher o ex-presidente Lula para receber o primeiro título Honoris Causa que a instituição concedeu a um latino-americano.

A informação é do jornal argentino Pagina/12 e do próprio Globo, que, através da repórter Deborah Berlinck, chegou a fazer a Descoings a seguinte pergunta: “Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?”.

No relato da própria repórter de O Globo que fez essa pergunta constrangedora havia a insinuação de que o prêmio estaria sendo concedido a Lula porque o grupo de países chamados Bric’s (Brasil, Rússia, Índia e China) estuda ajudar a Europa financeiramente, no âmbito da crise econômica em que está mergulhada a região.

A jornalista de O Globo não informa de onde tirou a informação. Apenas a colocou no texto. Não informou se “agrados” parecidos estariam sendo feitos aos outros Bric’s. Apenas achou e colocou na matéria que se pretende reportagem e não um texto opinativo. Só esqueceu que o Brasil estar em condição de ajudar a Europa exemplifica perfeitamente a obra de Lula.

Segundo o relato do jornalista argentino do Pagina/12, Martín Granovsky, não ficou por aí. Perguntas ainda piores seriam feitas.

Os jornalistas brasileiros perguntaram como o eminente Sciences Po, “por onde passou a nata da elite francesa, como os ex-presidentes Jacques Chirac e François Mitterrand”, pôde oferecer tal honraria a um político que “tolerou a corrupção” e que chamou Muamar Khadafi de “irmão”, e quiseram saber se a concessão do prêmio se inseria na política da instituição francesa de conceder oportunidades a pessoas carentes.

Descoings se limitou a dizer que o presidente Lula mudou seu país e sua imagem no mundo. Que o Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula. E que por ele não ter estudo superior sua trajetória pareceu totalmente “em linha” com a visão do Sciences Po de que o mérito pessoal não deve vir de um diploma universitário.

O diretor do Science Po ainda disse que a tal “tolerância com corrupção” é opinião, que o julgamento de Lula terá que ser feito pela história levando em conta a dimensão de sua obra (eletrificação de favelas e demais políticas sociais). Já o jornalista argentino perguntou se foi Lula quem armou Khadafi e concluiu para a missão difamadora da “imprensa” tupiniquim: “A elite brasileira está furiosa”.Blog da Cidadania.

Um homem do mundo: Lula é ovacionado por estudantes ao receber diploma na França


LÚCIA MÜZELL
Direto de Paris

Batucada na entrada, cenas de histeria na saída. Foi em um clima de ídolo juvenil que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta terça-feira, em Paris, o título de doutor honoris causa da Sciences Po, uma das instituições de ensino mais importantes da França. Lula ainda teve o discurso interrompido diversas vezes por aplausos e, ao final da cerimônia, teve direito a uma homenagem com carregado sotaque francês: em português e com a letra nas mãos, os alunos entoaram "vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer", refrão da famosa música "Para dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré.

Esta foi a primeira vez que a Sciences Po entregou um doutorado honoris causa a um latino-americano e o segundo título do gênero recebido pelo ex-presidente por instituições internacionais - o primeiro foi da Universidade de Coimbra, em Portugal. Lula se alongou por 40 minutos para agradecer ao título, em um auditório lotado por 500 pessoas, entre estudantes, jornalistas e acadêmicos destacados da universidade, como o respeitado sociólogo Alain Touraine.

A sala era decorada por bandeiras do Brasil, erguidas pelos jovens que, ao encerramento do evento, gritavam o nome do ex-presidente, se empurravam para se aproximar dele, pediam autógrafos e até choravam ao conseguir uma foto ao lado de Lula. O petista não economizou beijos, abraços e poses junto aos estudantes quando tentava deixar a instituição.

"Embora eu tenha sido o único governante do Brasil que não tem diploma universitário, já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil", disse, em um discurso recheado não apenas de dados favoráveis ao seu governo, como de brincadeiras que fizeram o público rir em diversas ocasiões. "Eu perdi muito, gente. Se vocês um dia quiserem conversar com um cara que perdeu muito, me procurem. Mas também fui o cara que quando ganhou, soube tirar lições das derrotas para ajudar a mudar a história do meu país."

O ex-sindicalista comentou a atual crise econômica mundial, para a qual vê apenas uma iniciativa política conjunta como solução. "Eu via tanta gente sabida na Europa e nos Estados Unidos, que dava tanto conselho econômico, que quando começou a crise, eu falei: os especialistas lá vão resolver a crise em três dias. Qual não foi a minha surpresa quando eles se esconderam. Ninguém sabia mais nada: o Banco Mundial não sabia mais nada, o FMI não sabia mais nada, a Comissão Europeia também não."

Lula também arrancou aplausos da plateia ao descrever o percurso da atual presidente do Brasil, Dilma Rousseff, durante os anos da ditadura, e terminou de conquistar os últimos fãs franceses ao incitar os jovens a não desistirem da política - a Sciences Po forma a maioria dos governantes franceses. "Vocês ficam idealizando o político ideal. Pois olhem para vocês mesmos: esse político pode ser um de vocês."


O ex-presidente preferiu não conversar com a imprensa após o evento. Ele fica na capital francesa até amanhã, quando deve se encontrar com o primeiro-secretário do Partido Socialista, Harlem Désir. Os líderes do partido estão em plena campanha para as primárias internas, que vão designar o candidato para as eleições presidenciais francesas em 2012, contra o atual presidente, Nicolas Sarkozy. Na segunda-feira, Lula encontrou-se com Sarkozy no palácio do Eliseu, a sede da presidência francesa, a convite do governante.



Pausa musical: Arctic Monkeys



Senhor C.:

- Uma banda que tentam catalogar como post-punk revival. Cruz credo! Onde vai parar esta mania de apor pós em tudo?

Pausa Musical: Zeca Baleiro





Senhor C.:

- Melhor forma de ironia e mais sublime crítica ao besteirol religioso que nos assola tá neste heavy metal. Em tempos de rock'n Rio.

Impostos: mentiras e verdades



Dia sim e o outro também sai alguma notícia sobre a "insuportável" carga tributária do país. Quando não é um parlamentar demista/tucano que se encarrega da tarefa de alertar a nação sobre quanto imposto o governo (federal, é claro) arrecada para sustentar a sua "estrutura podre", é um desses "analistas" especializados em flashes e holofotes, que exibe meia dúzia de números e um raciocínio torto, para tentar convencer os mais tolos que os tributos são o mal que impede o Brasil de crescer.

Trata-se, claro, de propaganda pura. Muitos compram essa ideia simplesmente porque não param um minuto para pensar na importância dos impostos para todos, inclusive para eles próprios, sejam ricos ou pobres.
É muito bom que o país tenha uma carga tributária elevada, pois isso significa que os órgãos arrecadadores funcionam e que as pessoas "físicas" e as "jurídicas" estão cumprindo com as suas obrigações. Enfim, que aqui existe um Estado organizado, com estruturas que funcionam, como deve ser numa democracia moderna.
Isso, porém, não é inteiramente verdadeiro. O médico Adib Jatene, com toda a sua experiência na saúde pública, e por ter sido quem idealizou a Contribuição Provisória para o Financiamento da Saúde, a CPMF que os neoliberais empedernidos fulminaram, não cansa de repetir que os nossos queridos empresários detestam pagar imposto e que não é apenas melhorando a gestão que haverá um salto de qualidade no setor - é preciso mais dinheiro para tirar a saúde pública da precariedade em que se encontra.
Recentemente li mais uma entrevista do dr. Jatene, não me lembro mais onde. E nela, sem mais delongas, ele exterminou com essa conversa de que a carga tributária no Brasil é uma das maiores, se não a maior, do mundo, com um argumento simples e incontestável: na contabilidade dos tributos arrecadados está incluída a Previdência Social, e ela não é um tributo, é um fundo administrado pelo Estado para ser usufruído por quem contribuiu para ele. Nas contas que fiz, a Previdência Social corresponde a cerca de 25% do total arrecadado.
Para o dr. Jatene, se a Previdência Social for excluída - como deve ser - da contabilidade, a carga tributária do Brasil poderá ser incluída entre as menores do mundo.
E sobre o "prejuízo" da Previdência, algo que também é alardeado com ênfase extraordinária pela turminha neoliberal, acrescento o que muitos já sabem: sem sustentar os aposentados rurais e os idosos, ela estaria muito bem, obrigado. O sistema funciona, sim, e é extremamente importante para todos.
Um Estado em que cada um paga o imposto que quer e onde ninguém tem direito a se aposentar não é bem um Estado, e sim outra coisa, como, por exemplo, uma anarquia.


by Crônicas do Motta.

Pense localmente, aja globalmente


Teológico-político 
Vladimir Safatle 
"Pense globalmente, aja localmente." Este era um dos slogans mais repetidos por qualquer manual de administração de empresas nos anos 90. O filósofo Slavoj Zizek demonstrou como a política externa dos EUA na primeira década do século 21 seguiu um imperativo inverso: "Pense localmente, aja globalmente".De fato, boa parte das intervenções norte-americanas na política mundial parece ser orientada por problemas domésticos. Um exemplo trágico é o conflito Israel-Palestina.

Desde que assumiu o poder, Obama reiterou sua disposição em lutar por um Estado palestino. Logo nos primeiros meses de seu governo, ouvimos suas exigências claras sobre o congelamento da política de construção de assentamentos na Cisjordânia. Meses atrás, ele afirmou que a negociação sobre tal Estado deveria partir das fronteiras definidas pela ONU em 1967.

Tudo isso não passou de palavras vazias. Agora, Obama vetará pateticamente uma proposta de reconhecimento do Estado palestino que ele mesmo havia enunciado, na ONU, como objetivo a ser alcançado neste ano. O argumento é que as condições ainda não estariam dadas, já que, para Obama, um Estado não pode ser reconhecido se não for fruto de negociação com a potência que ocupa seu território.Seguindo tal argumento inacreditável, o Kosovo nunca seria reconhecido como país. Mas os EUA foram um dos primeiros a reconhecê-lo.

O governo Netanyahu disse claramente que um Estado palestino nas fronteiras de 1967 é inaceitável. Ele não afirmou algo como: só aceitamos se houver garantias substantivas de completo desarmamento do Hamas, se pudermos operar conjuntamente a segurança de zonas sensíveis do novo Estado etc. A posição foi simplesmente: não há negociação sobre este ponto. Depois disso, há de se perguntar o que resta a negociar.A posição dos EUA nessa questão, na contramão de praticamente todo o resto do mundo, só é explicável pelas idiossincrasias de sua política interna. Se Obama é incapaz de pressionar seu aliado a encarar o caráter insustentável da situação, isto não se deve só à influência dos grupos norte-americanos de pressão ligados à comunidade judaica.

O problema é mais espinhoso. Sua raiz deve ser procurada no terreno teológico e na aliança entre os messianismos evangélicos e judaicos. Faz parte da mentalidade evangélica hegemônica no chamado "Bible Belt" a crença em uma certa "comunidade de destino" entre os representantes do Velho e do Novo Testamento.

Algo que o Partido Republicano sabe muito bem e não tem medo de instrumentalizar. Triste é pensar que tópicos sensíveis da política internacional estejam à mercê de influências dessa natureza.

Um título contra as castas

by Tijolaço.

Amanhã, Lula recebe o 16º título de Doutor Honoris Causa do prestigiado Instituto de Estudos Políticos de Paris, conhecido como Sciences-po. Não é toda hora que se dá ali um título destes, tanto que a instituição, fundada em 1872, leva quase dez anos, em média, para conceder um deles.


E a pergunta que todo mundo quer fazer foi feita pela correspondente de O Globo, Deborah Berlink:

Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?

O presidente da instituição, Richard Descoings, com a necessária diplomacia, dá a resposta:

“O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico. Sciences-po é uma universidade de elite, porque nós formamos uma parte da classe politica e das grandes empresas francesas. O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences-po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente de um diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade. Ele foi eleito por unanimidade pelo nosso conselho de administração. A França, como toda a Europa, passa por um momento difícil.(…)

O professor Descoings talvez não saiba, mas somos ainda mais uma sociedade de castas. E foi preciso que se rompesse essa tradição de castas para que o Brasil mudasse. Mesmo aqueles que vieram da esquerda, como Fernando Henrique, ao serem aceitos nos salões, passaram a portar-se e a pensarem como essa subnobreza colonial que não pensa o Brasil como um país.

A entrega do título será transmitida ao vivo no site da Sciences Po às 12h30 daqui, amanhã. Vai ser um momento de afirmação, muito mais que de Lula, do Brasil. Porque, quando não somos um país de castas, somos um país imenso.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A invisibilidade dos 'indignados'

por Gilson Caroni Filho


O jogo é repleto de velhos subterfúgios. A grande imprensa, na tentativa de desconstruir o legado do governo Lula, organiza o movimento, mas não pode revelar o sujeito do enunciado. As últimas manifestações contra a corrupção, urdidas nas oficinas do Instituto Millenium, não evidenciam apenas o vazio de uma oposição sem projeto. Vão além. Seus verdadeiros objetivos são por demais ambiciosos para serem expostos à luz do dia. Na verdade, o que se tem em mente é o combate às políticas de redistribuição de renda e os diversos programas de inclusão social levados a cabo nos últimos nove anos de governo petista.

Para tanto, as redações interagem com os “indignados” das redes sociais, apresentados como protagonistas de uma nova esfera pública singular. Sem organicidade, enraizamento e ojeriza a qualquer coisa que remeta a práticas políticas transformadoras, os “movimentos espontâneos” são a imagem espelhada de tantos setores que endossam a verdadeira corrupção a ser combatida: aquela que promove a concentração de renda, de terras e a exclusão social, além de assegurar os privilégios das corporações midiáticas.

Mais uma vez, é preciso voltar no tempo para apreender a dinâmica do ocultamento das taxonomias, pressuposto básico para a eficácia do poder simbólico, da capacidade, cada vez mais limitada, de formatar antigas agendas.

Terça-feira, 20 de março de 2007. Mais uma vez, “empenhado” em repor a verdade factual de episódio recente da política brasileira, Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, voltava à página de “Opinião” do jornal da família Marinho. Desta vez escreveu um artigo que tinha por título “Collor”. Como de hábito, uma redação formalmente correta, escorreita e elegante. Como sempre, uma petição de meias verdades. Algo como um Legacy com problemas no mapa aeronáutico e no painel do tranponder. Se a história tomasse a forma de um Boeing, uma colisão inevitável teria que desaparecer do noticiário doJornal Nacional.

Dizendo-se chocado com a “reação do Senado ao discurso de estréia de Fernando Collor” na quinta-feira (15/3), o jornalista abria o artigo manifestando indignação com a forma como o ex-presidente classificou seu impeachment: “Uma litania de abusos e preconceitos, uma sucessão de ultrajes e acúmulo de violações das mais comezinhas normas legais”.

Para Kamel, a passividade dos senadores deu margem a uma perigosa releitura da história. Segundo ele, o que Collor queria caracterizar como momento de arbítrio, foi, na verdade, “um exemplo pleno do funcionamento de nossa democracia”. Até aqui não havia o que objetar ao texto do segundo cargo de maior importância na hierarquia da Central Globo de Jornalismo. Os problemas começavam quando, após relato detalhado do funcionamento da CPI e do julgamento de Collor pelo STF, Kamel explicitava o que o levou a escrever o artigo: “A preocupação com os jovens, que não conhecem essa história”. Se a motivação fosse sincera, deveria, então, contar o processo histórico inteiro, não se atendo apenas a seus momentos finais.

Teria que recordar que o ex-presidente foi uma aposta de Roberto Marinho para dar início à desconstrução do Estado, conforme solicitava o receituário neoliberal. O criador do maior conglomerado de mídia e entretenimento do Brasil não hesitou em jogar sujo para assegurar a vitória do “caçador de marajás” em 1989.

A apresentação do debate de Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial de 1989, é um exemplo dos métodos empregados por Roberto Marinho quando resolvia intervir na política. Em matéria para o Estado de S.Paulo (8/8/2003), José Maria Mayrink revela que…


“…Roberto Marinho não gostou da edição que a Rede Globo fez no noticiário da tarde e determinou que o diretor de jornalismo, Alberico Souza Cruz, reeditasse o material. Seu argumento era que estava parecendo que Lula ganhara o debate quando, de fato, o vencedor havia sido Collor. O episódio provocou uma crise interna na emissora e levou o candidato do PT a dizer que perdeu a eleição por causa da TV Globo”.

Em sua dissertação de mestrado, “Marajás e Caras-Pintadas: a memória do governo Collor nas páginas deO Globo“, o professor e jornalista Luis Felipe Oliveira mostra como a mídia construiu representações identitárias que marcaram o período Collor, da ascensão ao impeachment. Da necessidade de apresentar, acatando a agenda do neoliberalismo ascendente, o serviço público como algo oneroso, inoperante e injusto, nasceu a funcionalidade do “marajá”. Um construto tão eficaz quanto simplificadora.

Para os fins deste artigo, é interessante reproduzir como a Globo afirma suas representações negando o princípio do contraditório. Segundo Luis Felipe…


“…no esforço de representar o marajá, foi preciso evitar que as pessoas identificadas como tal pudessem apresentar ao leitor a sua versão. Nas poucas oportunidades em que permitiu aos acusados o direito de se manifestar, O Globo selecionou e redigiu de tal forma as informações que elas acabavam por corroborar as denúncias das quais os servidores estariam se defendendo. Recursos como este não foram usados apenas com os supostos marajás. Os governadores que não aderiram à caça também eram apresentados nas matérias de O Globo de tal maneira que suas intervenções não faziam efeito”.


O protagonismo da Globo na consolidação da imagem de Collor junto a parcela expressiva do eleitorado foi inegável. Marinho nunca ocultou que escondeu suas cartas. Foi enfático quando declarou à imprensa que “até as acusações, o Collor era para mim motivo de orgulho” (Estado de S.Paulo, 12/9/1992).

Deixemos claro que entre a Globo e Collor não houve relação de causalidade. Um precisava do outro para atingir seus fins. Era um típico caso de afinidade eletiva, formatado do princípio ao fim.

Convém lembrar que as Organizações Globo só abriram espaços para as manifestações públicas quando a sustentabilidade de Collor se tornou inviável. Em momento algum houve inflexão ética. Imolaram um personagem para manter intacto o projeto. Na mobilização pelo impeachment, a conhecida antecipação histórica de Roberto Marinho se fez presente. Os caras-pintadas eram o retorno do movimento estudantil como farsa. A ação política teatralizada neutralizava qualquer possibilidade contra-hegemônica. O espetáculo sobrepujava as contradições históricas. A TV Globo aparecia como vanguarda de um processo que, inicialmente, buscou esvaziar.

Já era possível antever, em meados de 1992, que o saldo final do movimento seria favorável às forças conservadoras. O clamor pela ética, quando acompanhado de vazio político, sempre produz um vaudevilleburguês. A edição do Jornal Nacional de 2/10/1992, dia do impeachment, foi o modelo acabado da informação espetacularizada. Mostrou multidões concentradas em diversas capitais e terminou ao som deAlegria, Alegria, de Caetano Veloso.

Ainda que reposta parcialmente, a história da Globo e seu candidato talvez explique melhor porque, segundo Kamel, “este é um país em que o decoro pode ser quebrado sem infringir o Código Penal”. Sem meias verdades, encontraremos as digitais do império de Roberto Marinho no que há de mais indecoroso no Brasil. Quem sabe, até o próprio DNA do monopólio informativo.

E que nenhum leitor pense que, passados 18 anos, a Globo atualizou seus métodos. Continua fiel seguidora da velha sentença de Nélson Rodrigues: “Se as versões contrariam os fatos, pior para os fatos.” Nos critérios de noticiabilidade da emissora não há lugar para fiascos.

Pior para os gatos-pingados que, no vazio de suas palavras de ordem, perdidos no centro do Rio de Janeiro, ficaram no limbo das editorias que tanto apostaram no êxito das articulações. Os caras-pintadas de 20 de setembro de 2011 conheceram a invisibilidade do próprio fracasso. Foi patético, mas de um didatismo exemplar.

Alerta aos usuários do Facebook!

Medo! Facebook sabe tudo o que você faz na rede

Facebook pode saber quais páginas você visita, mesmo que tenha feito logout na rede social

Por Marcos Elias Picão em 26 de setembro de 2011 às 00h48, sugestão da Conceição Oliveira

Problemas de privacidade com o Facebook não são novos: com frequência uma ou outra questão é levantada. Mesmo depois de melhorar a imagem lançando novos controles de privacidade, algumas brechas ainda existem.

Neste final de semana Nik Cubrilovic, um pesquisador curioso, descobriu que os cookies do Facebook permitem o rastreamento de muitos sites que o usuário visita, mesmo depois de ter saído do Facebook (feito logout).

Muitos sites utilizam o botão “Curtir”, que é uma página do Facebook embutida na página do site. O cookie do Facebook armazena algumas informações, como a ID do usuário. Ao acessar um site que tem o “Curtir”, estando logado no Facebook, basta um clique para que a informação vá para seu perfil. Só que mesmo saindo do Facebook explicitamente (logout), o cookie no computador é alterado, em vez de excluído. A ID do usuário continua lá. Então o Facebook fica sabendo de todas as outras páginas em que você navega, desde que estas tenham algum recurso do site – um plugin qualquer ou o mesmo botão Curtir.

Essa informação pode ser valiosa para o site para rastrear a atividade dos seus usuários na rede, possibilitando oferecer sugestões de amigos ou propaganda mais direcionada.

Um experimento curioso relatado pelo mesmo Nik Cubrilovic relata que depois de criar algumas contas fake no Facebook e usá-las por um tempo, o Facebook passou a sugerir a conta dele como amigo ao usar as contas falsas. Como o Facebook ficaria sabendo da relação, sendo que ele sempre saía de uma conta para entrar em outra? Isso coloca em pauta a privacidade ao usar o Facebook em computadores públicos, com acesso de inúmeras outras pessoas.

O ideal seria que limpassem a identificação do usuário, afinal muitas e muitas páginas incluem o botão Curtir, e esse monitoramento – mesmo estando desconectado do Facebook! – em geral não é nada agradável.

Nik Cubrilovic reclama que vem tentando notificar o Facebook há vários meses, sempre sem resposta. O tema foi publicado devido às recentes questões de privacidade envolvidas nas novas APIs, que permitem que um aplicativo do Facebook compartilhe informações sobre as páginas em que o usuário esteve sem que ele precise tomar nenhuma outra ação, nem clique nem confirmação posterior de nenhuma espécie. A situação é preocupante, apesar de só parecer mais um recurso “legal”. Ter seu histórico de navegação parcialmente aberto aos amigos não deve agradar a ninguém, ainda mais quando se trata de rede social, em que muitas vezes, muitos amigos lá são pessoas desconhecidas.

O jeito é sempre limpar os cookies do Facebook, usar algum outro navegador só para isso (talvez o modo anônimo dos navegadores funcione bem), ou simplesmente deixar a rede de lado.

Uma situação parecida é feita de outra forma por outras empresas, especialmente aquelas que controlam anúncios na web, como a gigante Google. Ter o histórico de navegação dos usuários é algo espetacular para quem quer entregar informação complementar ou relevante, que pode atrair ainda mais o interesse das pessoas… Só que sabe-se lá mais o que podem resolver fazer com os dados um dia.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Declaração à praça!

Eu, Senhor C., comentarista deste blog, declaro à praça que sou, sempre fui e serei favorável a construção de usinas hidrelétricas como Belo Monte, Santo Antonio e Jirau. Pergunto aos miloitantes da causa alheia se estão dispostos a voltar a usar lenha, velas e lamparinas para suas atividades cotidianas como tomar banho, cozinhar, lavar e passar roupa, caso o nosso parque hidrelétrico entre em insuficiência? Ou acreditam em energia limpa como a nuclear?

Mensagem de interesse aos habitantes de Avatar

De novo, o padrão Ricúpero de jornalismo


Reproduzo aí ao lado a manchete de O Globo do dia 6 de abril, com a “condenação” da Organização dos Estados Americanos à construção da Usina de Belo Monte e a materinha, na página 25 de hoje, dizendo que a OEA nada tem contra a obra e que faltou-lhe informação quando se manifestou contrária a ela.

A diferença de tratamento é tão grande que eu mesmo só a li depois de alertado pelo Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.

Não é preciso sequer dar usar argumentos diante deste flagrante desequilíbrio. É o padrão Ricúpero de jornalismo: “o que é bom a gente mostra, o que é ruim, a gente esconde”.

Neste caso, a condenação a Belo Monte pela OEA é o “bom”, o arrependimento da Organização é o “ruim”, não é mesmo.

Esqueçam qualquer discussão séria – e necessária – sobre questões ambientais e econômicas. Tudo é política e propaganda.

Havia ou não havia razão para, há um mês, a gente dizer que o Código de Ética da Globo merece apenas uma risada?

DO BLOG 'TIJOLAÇO'




Notícia aos habitantes de Avatar: OEA não condena mais Belo Monte:


Publicado em 15/09/2011


As bem informadas

Saiu no Globo, na pág. 25 (será que a Urubóloga leu ?):

“OEA volta atrás sobre Belo Monte”

“Comissão de Direitos Humanos da OEA pedira suspensão da obra da usina em abril”

“… há cinco meses a OEA havia baixado uma medida cautelar pedindo ao governo brasileiro que suspendesse o empreendimento …”

Agora, enviou uma carta à Presidenta “se retratando e pondo um ponto final no impasse”.

O “especialista” da OEA disse:

“Esse assunto está encerrado para nós. Creio que o que houve foi falta de informação dos integrantes da Comissão”.

REPRODUZIDO DO 'CONVERSA AFIADA'


Comentário do Senhor C.:

 - Ah, os problemas do politicamente correto. Deram até palanque para que o novíssimo ecologista James Cameron fizesse comício em defesa do verde e das populações indígenas. Coisas deste ecologismo de ocasião, que joga a água do banho e a criança junto. Não distingue nada! É apenas a favor ou contra, Simples assim. Coisas de um debate que grassa em meio a política da amnésia e ao movimento que reduz quase tudo ao pensamento único.






quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Mais Adele



Comentário do Senhor C.:

 - Guardem este nome; Adele Laurie Blue Adkins, britânica como Amy. Voz de contralto, meio caminho entre o tenor e  o meio-soprano. Amy nascera em 1983, Adele é de 1988.

Amy Winehouse não morreu! Nasce um mito aos 27



Comentários do Senhor C.:

- Por que essa voz se calou? Por que?

Em defesa de valores que nunca devem ser negligenciados

Contra a imundície


O jornalista Paulo Pinheiro fez outro dia algo que muitos de nós, inconformados com os ataques diários dos predadores em qualquer espaço disponível da internet, deveriam fazer. Assinante do Terra, não aguentou ler os comentários de cunho racista postados nas notícias referentes ao concurso de Miss Universo, cuja vencedora foi uma linda angolana, e cancelou sua assinatura dos serviços do portal, por meio de uma carta que tornou pública no Facebook.
A permissividade com relação a tanta imundície não é, porém, exclusiva do Terra. Todos os outros portais agem do mesmo jeito, deixando o espaço aberto a comentários livre para qualquer tipo de manifestação, transformando uma área que poderia ser nobre, por contar com uma diversidade de pensamento impossível de ser encontrada em qualquer outra mídia, numa terra de ninguém, num território infestado de bestas sedentas em expor seus recalques, seus ódios e seus vícios.
De minha parte, aqui nestas modestíssimas "Crônicas", o problema está resolvido há muito tempo. Não foi à toa que coloquei, em lugar bem visível, um texto que julgo sintetizar o que penso da interação que deve haver entre o autor do blog e seus leitores: "Os comentários são bem-vindos. Todos serão moderados. Não serão publicados comentários que estimulem o preconceito de qualquer espécie, ofendam, injuriem ou difamem quem quer que seja, contenham acusações improcedentes, preguem o ódio ou a violência. Este é um espaço para pessoas civilizadas."
É isso. Este é um espaço para ser compartilhado por pessoas civilizadas. Infelizmente outros, com muitos mais recursos que eu, acham o contrário e cultivam seus sites em pântanos nauseabundos, onde só os seres mais inferiores são capazes de proliferar.
A seguir, a íntegra da carta que o jornalista Paulo Pinheiro mandou ao Terra:

Prezados,
Gostaria de pedir o cancelamento de minha assinatura. Antes, porém, quero expor o meu motivo. Não é por falta de atendimento nem de tecnologia. Nesses aspectos estou satisfeito com a prestação de serviços de vocês. É por falta de respeito ao ser humano. Sou branco, 56 anos, nascido em São Paulo, possuo oito irmãos e tenho 22 sobrinhos. Isso posto, para dizer o seguinte: na minha família há de tudo, há casamentos entre todas as raças. Minha mulher é descendente de negros. Por isso, tenho cunhados, cunhadas e sobrinhos loiros, negros, mulatos, descendentes de europeus e japonês.
Há tempos que venho descontente com alguns comentários que leio nas reportagens do Terra. Sempre relevei, porque os deixei no terreno da ignorância. Mas os últimos sobre a eleição da miss de Angola para Miss Universo ultrapassou todos os limites. Eles me ofendem como ser humano. Não posso aceitar de jeito nenhum que chamem um negro de macaco, ou que façam qualquer coisa desse tipo com qualquer raça. E não entendo como vocês deixam passar esse tipo de comentário. Isso não é livre expressão, é propagação do racismo, do ódio à raça, ao próximo.
Por isso, solicito desde já o cancelamento de minha assinatura. Aguardo um comunicado de vocês, com, no mínimo, um pedido de desculpa por terem me agredido como ser humano. Vocês são responsáveis pelos comentários publicados. Ganhar dinheiro sim, mas assim não!!!! Então tchau!!!
Estou encaminhando esta mensagem para pessoas do meu círculo que também são assinantes Terra. Espero que elas tomem a mesma atitude. Por que acho que única linguagem que vocês entendem é a do prejuízo. Espero ainda que essa mensagem caia na mão de alguém responsável, que leve isso para frente. Se não tiver reposta, vou postá-la no Facebook e no Twitter.
Atenciosamente, Paulo Pinheiro Santos




Amy Winehouse morreu! Viva Adele


Comentário do Senhor C.:

- Sei não, mas esta bela voz e sua dona, prometem muito. Ela tem um jeito...! Vai ocupar o vazio deixado pela prematura partida da Amy Winehouse, com certeza!

Homenagem ao Mau: Luciana Melo



Comentário do Senhor C.:

 - Há dois dias, deixou-nos o Mau (forma carinhosa como chamávamos a Maurício Chacour). Um homem bom! O homem bom! Saudades e pesar por esta perda - sem a chance de um despedida - não cabem em palavras.  Estive na sua defesa de mestrado e me recordo do gesto do seu orientador ao fim da sessão: pôs para tocar esta canção de Luciana Melo. Era tudo que se precisava dizer ao Mau naquela hora: um simples gesto, um simples desejo, um simples, porém profundo, momento nos reuniu!
Ave Mau, o homem bom, os condenados a viver te saúdam!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Tea Party brasileiro e seu precioso R$1,26

Do excelente Tijolaço:



Talvez muita gente não saiba, mas o nome do movimento de extrema-direita nos Estados Unidos é Tea Party por conta de um episódio ocorrido no processo de independência daquele país, conhecido como Festa do Chá de Boston, quando um grupo de colonos americanos, protestando contra os impostos exigidos pela Coroa inglesa, usaram roupas de índios e atacaram um navio da Companhia da Índias Orientais carregado de folhas de chá.

Foi justamente por causa dos impostos – e não por causa da independência – que o movimento, agora, apropriou-se deste nome. O programa deste setor do Partido republicano – e, de certa forma, de todo o partido – se resume em cortes de impostos.

Ninguém, é claro, seria contra qualquer corte de imposto se isso não comprometesse aquele mínimo de equilíbrio para merecer o nome de civilizada.

Mas não é assim. Aqui, a imprensa brasileira, sempre desejosa de mostrar que seu “modelo” mundial é um território paradisíaco de baixos impostos, noticiou que o presidente Barack Obama anunciou um plano para combater o desemprego que corta impostos. Verdade. Corta impostos sobre folha de pagamento e pequenas empresas, além de aumentar benefícios sociais aos desempregados e propor um programa de obras públicas e de construção civil para minorar a desocupação que levou o país a um recorde de pobreza., anunciado oficialmente hoje.

Se você refletir, vai ver que não há nada de muito diferente do que se fez aqui, com a ampliação do Simples, desonerando as micro, pequenas e médias empresas e com os programas integrantes do PAC, destacadamente o Minha Casa, Minha Vida.

Mas o programa de Obama também prevê aumento de impostos, uma vez que não há mágica que faça dinheiro aparecer do nada. Segundo a Agência Reuters, “o plano de Obama levantará 400 bilhões de dólares nos próximos 10 anos ao colocar novos limites sobre deduções para pessoa física com renda superior a 200 mil dólares por ano e para famílias com renda de mais de 250 mil dólares.O restante do dinheiro virá de outros impostos, incluindo taxas sobre donos de jatos corporativos e sobre a indústria de gás e petróleo.”

Em resumo, aumento do Imposto de Renda, sobre propriedade e sobre atividades excepcionalmente rentáveis.

Nos EUA, quem ganha acima de US$ 200 mil (R$ 340 mil) por ano paga uma alíquota entre 33 e 35%, antes do aumento. Aqui, paga 27,5%.

O desmeprego americano reflete-se diretamente os serviços de saúde. Cerca de 50 milhões de americanos estão, por conta de um sistema privado de saúde, baseado em planos de saúde empresariais, por conta do desemprego, estão sem qualquer cobertura médica. Não tem SUS por lá.

Todos querem recursos para a saúde. Mas não podemos fazer aumentos de impostos, porque isso sufocaria nossa economia. Verdade, de estes impostos forem criados sobre a cadeia produtiva. Mas não se forem aplicados sobre a renda e sobre transações que não estimulem nossa economia.

A classe média alta e a elite brasileira não estão afogadas em impostos. O sistema tributário brasileiro castiga os pobres: 53,9% dos rendimentos daqueles que ganham até dois salários mínimos é consumido em tributos indiretos. Já entre os mais ricos, com renda acima de 30 salários mínimos – R$ 16,35 mil mensais - a carga tributária é de 29% dos rendimentos. Tanto não é desesperadora a situação de nossa classe média alta que o número de turistas brasileiros que visitaram os Estados Unidos no primeiro semestre de 2011 cresceu 28,1%, em comparação com o mesmo período de 2010. Só no mês de junho o crescimento foi de 33,8%. E cada um deles deixa lá, em média, R$ 10 mil.

A presidenta Dilma tem razão. A CPMF desmoralizou-se pelo fato de ter sido sua renda destinada a outras despesas que não às do sistema de Saúde. Mais ainda, porque teve o erro de origem de não incidir sobre aqueles que movimentavam a partir de certo valor em suas contas, o que poderia ter sido limitado a, por exemplo, dez salários mínimos. Isso foi o que Lula tentou fazer, mas as pressões já eram grandes demais para que isso fosse viável.

Nos Estados Unidos, Obama tem pouca chance de aprovar seu plano para gerar empregos, porque nem a oposição nem a grande mídia – salvo exceções – se oporá às elevações de importo. Aqui, da mesma forma, não existem condições políticas de recriar a CPMF.

Mas existem, se começarmos a discussão, a possibilidade de taxarem-se as altíssimas rendas e as grandes fortunas. Nossos problemas fiscais tem sido resolvidos, até agora, com o crescimento e a formalização da economia, não com a elevação de taxas, que só ocorreu para regular fluxos de capitais – caso do IOF – e não para resolver probremas de arrecadação.

Se podemos e devemos financiar uma saúde pública de alta qualidade, precisaremos, como diz o Dr. Adib Jatene, pagar por isso. Até porque já pagamos: os planos de saúde que todos, com boas razões, querem fazer cobram mais dos clientes em um mês do que lhes custaria a CPMF em um ano.

Como exemplo, quem tem uma renda familiar de 10 mil reais por mês recolheria de CPMF e a movimenta no banco, com aquela alíquota de 0,38%, mesmo sem isenção até um certo patamar da renda, R$ 38 reais mensais. Ou R$ 1,26 por dia.

Esse é o valor que faz nossa elite gritar, em lugar de discutir com seriedade as fontes possíveis e justas de financiamento para uma elevação da saúde pública a um nível adequado, onde ela própria possa, querendo, utilizar-se dela.

E não as compras em Miami, como a alguns de seus porta-vozes.