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quinta-feira, 31 de março de 2011

Fragmentos dos diários perdidos do Senhor C.



"Noite insone! Desperto um homem a beira do desespero. Vontade de largar tudo, e me largar no mundo. Lembranças...pensamentos vagos...fragmentos de sensações....tudo parece em pedaços. Mas o que for deixado para trás estará sempre como uma sombra a soar convites para o retorno?"




Supostamente escrito num frio dia de inverno, quando o Senhor C. tiritava congelado a caminho do trabalho.


domingo, 27 de março de 2011

Fragmentos dos diários perdidos do Senhor C.




Às folhas mortas do outono


Há um lindo dia se esparramando pela vida afora,

Luz, calor....e nada!

Nenhuma energia boa pode correr das veias por ora

Nenhum sentimento bom parece brotar

É tudo frustração e mágoa

Que parece haver apenas o breu da noite

A iluminar as trevas alquímicas que tudo dissolvem

E fazem líquido o metal da crença no melhor

E coagulam em dor, em pranto e soluços

Inconsoláveis pelas folhas mortas no outono!


segunda-feira, 21 de março de 2011

A farsa inconteste dos interesses humanitários


Comentário do Senhor C. sobre as ações de guerra da coalizão ocidental contra a Líbia:


- Não morro de amores pelo Kadafi, e decerto não entendo que sua sanha assassina deva ser deixada a deriva. Mas daí a aceitar a beligerância do 'clube de nações ocidentais e civilizadas' contra o regime de Tripoli vai uma longa distãncia. Basta de hipocrisia! Defesa da democracia, neste caso, é mero business. Nenhum líbio será salvo a custa do banho de sangue que os civilizados europeus, conduzidos por um títere ianque que nada mais tem do que sanhas autoritárias e fascistas, pretendem justificar em nome de veleidades como democracia, liberdade e justiça. Chega de mentiras! É uma vergonha que se repete como farsa.Nenhum líbio estará sendo mais livre depois que este banho de sangue terminar. Trata-se de tirar um ditador para colocar outro em seu lugar. Apenas um ditador mais favorável aos interesses financistas da sanha estadunidense por petróleo barato e farto nas bombas de gasolina do consumidor. Nenhuma preocupação com relação a quantas vidas tombaram para que um Sommer idiota abasteça seu carro pagando galão de gasolina por módica quantia.

E para nós, brasileiros, quanta vergonha de uma imprensa subserviente e vendida. Proxenetas da isenção, mercadores de uma prostiuição ideológica que tudo distorce, desinforma e aliena.


quinta-feira, 17 de março de 2011

Imprudência diplomática ou servilismo colonial?

Imprudência diplomática

Mauro Santayana

É preciso romper o silêncio da amabilidade para estranhar o pronunciamento público que o presidente Obama fará, da sacada do Teatro Municipal, diante da histórica Cinelândia. Afinal, é de se indagar por que a um chefe de Estado estrangeiro se permite realizar um comício – porque de comício se trata – em nosso país. Apesar das especulações, não se sabe o que ele pretende dizer exatamente aos brasileiros que, a convite da Embaixada dos Estados Unidos – é bom que se frise – irão se reunir em um local tão estreitamente vinculado ao sentimento nacionalista do nosso povo.

É da boa praxe das relações internacionais que os chefes de estado estrangeiros sejam recebidos no Parlamento e, por intermédio dos representantes da nação, se dirijam ao povo que eles visitam. Seria aceitável que Mr. Obama, a exemplo do que fez no Cairo, pronunciasse conferência em alguma universidade brasileira, como a USP ou a UNB, por exemplo. Ele poderia dizer o que pensa das relações entre os Estados Unidos e a América Latina, e seria de sua conveniência atualizar a Doutrina Monroe, dando-lhe significado diferente daquele que lhe deu o presidente Ted Roosevelt, em 1904. Na mensagem que então enviou ao Congresso dos Estados Unidos, o presidente declarou o direito de os Estados Unidos policiarem o mundo, ao mesmo tempo em que instruiu seus emissários à América Latina a se valerem do provérbio africano que recomenda falar macio, mas carregar um porrete grande.

Se a idéia desse ato público foi de Washington, deveríamos ter ponderado, com toda a elegância diplomática, a sua inconveniência. Se a sugestão partiu do Itamaraty ou do Planalto, devemos lamentar a imprudência. Com todos os seus méritos, a presidência Obama ainda não conseguiu amenizar o sentimento de animosidade de grande parte do povo brasileiro com relação aos Estados Unidos. Afinal, nossa memória guarda fatos como os golpes de 64, no Brasil, de 1973, no Chile, e ação ianque em El Salvador, em 1981, e as cenas de Guantánamo e Abu Ghraid.

O Rio de Janeiro é uma cidade singular, que, desde a noite das garrafadas, em 13 de março de 1831, costuma desatar seu inconformismo em protestos fortes. A Cinelândia, como outros já apontaram, é o local em que as tropas revolucionárias de 1930, chefiadas por Getúlio Vargas, amarraram seus cavalos no obelisco então ali existente. Depois do fim do Estado Novo, foi o lugar preferido das forças políticas nacionalistas e de esquerda, para os grandes comícios. A Cinelândia assistiu, da mesma forma, aos protestos históricos do povo carioca, quando do assassinato do estudante Edson Luis, ocorrido também em março (1968). Da Cinelândia partiu a passeata dos cem mil, no grande ato contra a ditadura militar, em 26 de junho do mesmo ano.

Não é, convenhamos, lugar politicamente adequado para o pronunciamento público do presidente dos Estados Unidos. É ingenuidade não esperar manifestações de descontentamento contra a visita de Obama. Além disso – e é o mais grave – será difícil impedir que agentes provocadores, destacados pela extrema-direita dos Estados Unidos, atuem, a fim de criar perigosos incidentes durante o ato. Outra questão importante: a segurança mais próxima do presidente Obama será exercida por agentes norte-americanos, como é natural nessas visitas. Se houver qualquer incidente entre um guarda-costas de Obama e um cidadão brasileiro, as conseqüências serão inimagináveis.

Argumenta-se que não só Obama, como Kennedy, discursaram em público em Berlim. A situação é diferente. A Alemanha tem a sua soberania limitada pela derrota de 1945, e ainda hoje se encontra sob ocupação militar americana. Finalmente, podemos perguntar se a presidente Dilma, ao visitar os Estados Unidos, poderá falar diretamente aos novaiorquinos, em palanque armado no Times Square.



Comentário do Senhor C.:

Eu assino embaixo. Não gosto desta subserviência colonial travestida de amabilidade diplomática, ou mesmo da cordialidade do jeito brasilerio, tão ao gosto dos que nos querem quietinhos e sonolentos (deitados eternamente, como sugere certa leitura de nosso hino) nos costados da espreguiçadeira cordilheira andina. Eu, hein?!!

Confesso que não fazia idéia que o Sr. Obama discursará na avenida nesta sua visita ao país. Sou contra!! Lugar de visitante estrangeiro-presidente é em recintos fechados ou em enfadonhas recepções diplomática e outros convescotes. Na rua, discursando, nem pensar!!!!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Música para quem quer fugir da mesmice de Carnaval: Zé Ramalho


Comentários do Senhor C.:

Difícil classificar um artista como Zé Ramalho. Já tentaram cataloga-lo como artista regional nordestino. Já tentaram acopla-lo a uma suposta filiação com o bardo judeu-americano Robert Zimermman. Esforço inútil Zé Ramalho é singular. Regional e cosmopolita a um só tempo. Sua música é, por isso mesmo, atemporal. E não cabe em verbetes de enciclopédias, ou em taxonomias pretensamente críticas. Vale a pena conferir com este 'biscoito fino' que é Chão de Giz. Em plena segunda-feira cinzenta (alusão a outra de suas composições) que se derrama no calendário da mesmice de um Carnaval que a mídia globalista reduzirá a sambas marchados em avenidas do Rio e de São Paulo, e música baiana de coreografias duvidosas e melodias idem. E a uma sucessão de imagens chauvinistas de mulheres seminuas. Evento saudado, todavia, como uma pretensa entrega dionisiáca. Bah, este semideus deve estar se revirando no túmulo!!!!

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Brasil e sua Voz. Quem perde e quem ganha com o fim de "A voz do Brasil"?

EM BRASÍLIA, 19 HORAS'

QUEM GANHA COM O FIM DA 'VOZ DO BRASIL'?
'.. a estratégia da Abert, a entidade representativa dos donos da mídia, foi se valer de medidas judiciais para liberar a obrigatoriedade da transmissão (...) pesquisas apontam que "A Voz do Brasil" é hoje a única fonte de informação de 80 milhões de brasileiros, localizados principalmente nas periferias dos grandes centros, nas áreas rurais e nos municípios de pequeno e médio porte ... com as mudanças editoriais que recebeu, em especial a adoção de um foco mais jornalístico, o programa ...converteu-se em verdadeiro instrumento de fiscalização popular. A "Voz do Brasil" é o único veículo de comunicação do país que informa aos brasileiros dos pequenos municípios a chegada de recursos para a merenda escolar, do Fundeb, dos repasses oficiais, dos programas da Agricultura Familiar, da Previdência Social etc"
(Carta Maior, Sábado, 26/02/2011)

Em Brasília, 19 horas: Pela preservação da Voz do Brasil
O programa “A Voz do Brasil”, conhecido por 88% da população brasileira acima de 16 anos, corre risco de desaparecer por pressão dos radioempresários reunidos na Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Tramita no Congresso projeto para “flexibilizar” o horário de transmissão, hoje das 19 às 20h, o que na prática condenará a morte o único noticiário feito no país a que mais de 80 milhões de brasileiros - os que vivem nos locais mais remotos - tem acesso. Em resposta, a ABI, a Contag, a Fenaj, a Fitert e outras entidades pretendem lançar uma campanha Em Defesa da Voz do Brasil.
O artigo é de Chico Sant´Anna e Beto Almeida


Eram 19 horas, mas Brasília ainda nem existia. Com a narração do locutor Luiz Jatobá e veiculado nas 50 emissoras de rádio existentes à época no Brasil, entrava no ar, pela primeira vez, em 22 de julho de 1935, o Programa Nacional, que mais tarde foi rebatizado de a Hora do Brasil e, atualmente, “A Voz do Brasil”. Com as suas três denominações, “A Voz do Brasil”, informativo de abrangência nacional sobre as atividades dos três Poderes da República é hoje o programa radiofônico em operação mais antigo do mundo. Supera, inclusive, o “Voci del Grigioni italiano” (Voz dos Grisões italianos), criado pela Rádio e Televisão da Suíça Italiana, que data de 1939 e também teve denominações distintas. “A Voz do Brasil”, certamente poderia entrar no Guiness Book por ser o programa radiofônico de maior penetração no território nacional, sendo transmitido em cadeia por 7.691 estações, já computadas as 3.154 emissoras comunitárias legalmente em operação (e, é claro, não considerando os boicotes e desrespeitos legais que muitas delas cometem).

 Tramitação obscura

Na trajetória deste programa, que em 1938, foi rebatizado com o nome “A Hora do Brasil”, a temática nem sempre se limitou aos feitos governamentais. Houve época em que se incluía até notas internacionais, em especial sobre a Segunda Guerra Mundial. A linha editorial dos primeiros anos se baseava em três regras básicas: ser informativo, objetivo – não comentando as notícias – e não usar off, sempre citando as fontes noticiosas. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o programa nasceu para cumprir três finalidades: informativa, cultural e cívica. Engana-se quem pensa que “A Voz do Brasil” é fruto do DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda criado por Getúlio Vargas. Embora tenha sido uma idéia do então presidente, a Voz é mais antiga do que o DIP, que nasceu em 1939, ou seja, quatro anos após Luiz Jatobá entrar com seu vozeirão nas residências de todo o país.

Em 1971, “A Hora do Brasil” se transformou em “A Voz do Brasil” e o formato existente atualmente conta com uma única edição diária, com uma hora de duração, das 19h às 20h. Os primeiros 25 minutos são dedicados aos fatos gerados pelo Poder Executivo. Os tribunais integrantes do Poder Judiciário Federal dividem cinco minutos. As duas Casas do Legislativo e o Tribunal de Contas da União partilham 30 minutos (20 minutos para a Câmara dos Deputados, 10 minutos para o Senado Federal, e o TCU tem direito a um minuto às quartas-feiras). Cada instituição é responsável pela elaboração do respectivo conteúdo.

Programa mais antigo do país é também o menos querido pela Abert – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão. Embora pesquisa do instituto Datafolha, feita em dezembro de 1995, informe que 88% dos brasileiros com idade acima de 16 anos conhecem o informativo, e que mais da metade dos ouvidos aprovava que a sua transmissão seja obrigatória pelas emissoras de rádio do Brasil, a Abert luta para pôr fim a essa obrigatoriedade. Durante muito tempo, a estratégia da entidade representativa dos donos da mídia foi se valer de medidas judiciais para liberar a obrigatoriedade da transmissão. Depois que o assunto foi enterrado de vez pelo Supremo Tribunal Federal, acatando como justa e legal a obrigatoriedade da veiculação, os donos de rádio e TV atacaram via Legislativo.

Valendo-se do período eleitoral, quando o parlamentar não quer brigar com a mídia e o cidadão está com a atenção mais voltadas para a eleição, foi aprovado no Senado Federal um projeto de lei da deputada Perpétua Socorro (PCdoB-AC) que, em sua última versão, flexibiliza o horário de transmissão da “Voz do Brasil”, facultando a cada emissora escolher o horário fazê-lo, desde que não ultrapasse as 22h do mesmo dia.

O projeto, no seu nascedouro, não foi votado no plenário da Câmara dos Deputados. Talvez temerosos com o chamado "baixo clero", aquele que a mídia só cobre quando vira tema grotesco, os defensores do projeto conseguiram que ele fosse enviado diretamente para as comissões do Senado Federal. Em uma delas, foi relatado pelo senador Antonio Carlos Magalhães Filho, empresário ligado à radiodifusão na Bahia. Nem na tramitação da Câmara dos Deputados nem na do Senado o projeto foi submetido ao crivo do Conselho de Comunicação Social (CCS), órgão do Congresso Nacional que, regimentalmente, deve analisar todas as propostas legislativas vinculada à temática.
Áreas rurais

Alguns poderão não gostar daquele refrão de O Guarani, de autoria de Carlos Gomes, mas são obrigados a reconhecer que “A Voz do Brasil” tem desempenhado historicamente importante papel na construção da unidade nacional. A partir de 1962, no processo de mudança da capital federal para Brasília, e com o advento do Código Brasileiro de Telecomunicações, o programa passou a veicular informações sobre o Legislativo, levando a todos os rincões do país as notícias dos feitos parlamentares já instalados no Planalto Central, independentemente de cor partidária, nem sempre alvo das atenções da imprensa tradicional. Nos anos de chumbo do regime militar, “A Voz do Brasil” foi o único veículo em que as oposições tinham espaço para verbalizar suas críticas.

A partir da Nova República, com as mudanças editoriais que recebeu, em especial a adoção de um foco mais jornalístico, o programa contribuiu para a transparência dos eitos públicos e converteu-se em verdadeiro instrumento de fiscalização popular. “A Voz do Brasil” é o único veículo de comunicação do país que informa aos brasileiros dos pequenos municípios a chegada de recursos para a merenda escolar, do Fundeb, dos repasses oficiais, dos programas da Agricultura Familiar, da Previdência Social etc. Ouvindo o rádio, os cidadãos das áreas mais remotas do país podem melhor exercitar a sua cidadania, cobrando das prefeituras e câmaras municipais as medidas necessárias, já que os aportes federais de recursos públicos foram efetivados. Podem também tomar conhecimento das decisões judiciais e das fiscalizações do Tribunal de Contas, sem falar na crítica parlamentar, que nem sempre ecoa na imprensa comercial.

É notório que o setor radiofônico brasileiro não cumpre a lei que obriga que pelo menos 5% da programação sejam de produtos jornalísticos. É ridícula a quantidade de profissionais de imprensa contratados por esse setor, que recentemente foi alvo de anistia do Ministério das Comunicações por abuso do limite permitido de veiculação de publicidade. Para as 7.691 estações, segundo dados oficiais do Ministério do Trabalho, não chegam a 2.300 radiojornalistas – ou seja, a cada cinco emissoras em operação, existe um profissional produzindo informação.

A investida dos radioempresários contra “A Voz do Brasil” se dá num momento em que eles acabam de conseguir a renovação de um acordo entre o Ministério da Educação e a Abert. Assinado originalmente pelo então ministro da Educação do governo Collor, Carlos Alberto Chiarelli – e renovado desde então –, o convênio define que as emissoras de rádio que operam em ondas médias não serão mais obrigadas a veicular a programação de ensino à distância do Projeto Minerva. Este projeto federal de ensino à distância, utilizado para reduzir o analfabetismo no Brasil, previa a veiculação de meia hora, todos os dias, entre 20h e 20h30, apenas nas emissoras de ondas médias. Pelo acordo, esta meia hora de educação gratuita foi transformadaem 5 minutos no rádio e, na TV, em comerciais institucionais do Ministério da Educação. No MEC, o marketing fala mais alto do que a erradicação do analfabetismo. Outra questão importante é que pesquisas apontam que “A Voz do Brasil” é hoje a única fonte de informação de 80 milhões de brasileiros, localizados principalmente nas periferias dos grandes centros, nas áreas rurais e nos municípios de pequeno e médio porte do Brasil e, em especial, nas áreas rurais das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste Para o camponês, veicular “A Voz do Brasil” mais tarde é o mesmo de tirá-la do ar, pois ele dorme e acorda com as galinhas.

Patrimônio cultural imaterial

Por sua trajetória histórica, importância para a integração nacional e contribuição para a construção da cidadania brasileira, teve início em Brasília um movimento de preservação da” Voz do Brasil”. Nascido entre jornalistas e radialistas da cidade, o movimento conta com apoio da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Federação Interestadual dos Radialistas (Fitert), sindicatos dos jornalistas do Distrito Federal e do Estado do Rio, sindicato dos radialistas do DF, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Central Geral de Trabalhadores do Brasil (CGT-B), CNBB, MST e outras entidades civis.

O movimento "Em Brasília 19 Horas" defende a preservação desse importante instrumento de comunicação e o seu tombamento como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O país não pode perder seu informativo radiofônico mais antigo do mundo. A proposta foi abraçada pela senadora Marinor Brito (PSOL-PA), que já a apresentou na forma de projeto de lei. Este conta com apoio pluripartidário, dentre outros, do senador Roberto Requião (PMDB-PR) e da senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM). Além de classificar como patrimônio imaterial cultural do Brasil, o projeto de lei determina que seu horário seja obrigatoriamente das 19h às 20h, segundo o horário oficial de Brasília. Em última instância, trata-se da defesa de uma bem sucedidaexperiência de regulamentação informativa paradoxalmente ameaçada quando cresce na sociedade e no governo federal a consciência sobre a importância da regulamentação democrática das comunicações.


(*) Chico Sant’Anna e Beto Almeida Respectivamente, jornalista e PhD em Ciência da Informação e Comunicação pela Universidade de Rennes 1 (França); jornalista e diretor no Brasil da Telesur.



terça-feira, 1 de março de 2011

Para os partisans da integralidade! - parte II John Steinbeck



"A última função clara e definida do homem - músculos que querem trabalhar, cérebros que querem criar algo além da mera necessidade - isto é o homem. Construir um muro, construir uma casa, um dique, e por nesse muro, nessa casa, nesse dique, algo do próprio homem é retirar para o homem algo desse muro, dessa casa, desse dique; obter músculos fortes à força de move-los, obter formas e linhas elegantes pela concepção. Porque o homem, ao contrário de qualquer coisa orgânica ou inorgânica do universo, cresce para além do seu trabalho, galga os degraus de suas próprias idéias, emerge acima de suas próprias realizações. É isto o que se pode dizer a respeito do homem".

IN: Steinbeck, John. As vinhas da ira. Rio de Janeiro, Bestbolso, 2010, pg. 187.







Notas de leitura do Senhor C.:

Lendo estas linhas quase que se pode perguntar: John Steinbeck leitor de Marx? Há tanto eco das concepções humanistas do pensador alemão nestas frases do escritor estadunidense. A concepção do homem como processo, do trabalho como realizador do essencialmente humano, do homem como força dinãmica e transcendente, portanto, do homem como produto histórico.

Lendo estas linhas também se pode pensar na busca - algo abstrata - a que se entregam os defensores da integralidade quando miram-se com seus conceitos de homem tão abstraídos e mesmo reducionistas em relação às possibilidades que este 'pensar' o homem steinbeckiano reclama. O homem que cresce para além do seu trabalho, isto é se realiza como homem pelo trabalho; o homem que galga os degraus de suas próprias idéias, isto é, realiza a objetivação de sua subjetividade na produção das coisas, do mundo e de si mesmo; e que emerge acima de suas próprias realizações, faz pensar no homem como uma totalidade dinâmica que se constrói permanentemente, pois ao realizar coisas produz novas necessidades.

Dito desta maneira soa de uma complexidade tão simples em seus termos e elementos, que fica muitas vezes difícil tentar compreender porque insistimos em construir visões parciais e fragmentárias do homem, reduzindo-o a concepções 'naturais', a-históricas que o fossilizam, calcificam ou coagulam em dimensões estéreis, porque abraçam estas dimensões como se cada uma delas, sozinha, pudesse dizer do todo.